"Nos últimos 20 anos, o número de tabagistas no país caiu pela metade, mas, se colocarmos isso em valores absolutos, ainda são mais de 20 milhões de cidadãos fumando", analisa o pneumologista Ricardo Henrique Meirelles, da Divisão de Controle do Tabagismo do Instituto Nacional de Câncer. Segundo a Organização Mundial da Saúde, 6 milhões de indivíduos morrem todo ano exclusivamente devido ao vício. "Trata-se de uma doença crônica, que apresenta altas taxas de recaída", afirma Eurico Correia, diretor médico da Pfizer Brasil. É por isso que a farmacêutica com base nos Estados Unidos desenvolve uma vacina terapêutica para acabar com a dependência de nicotina, uma das mais de 4.700 substâncias presentes no cigarro e a responsável pelo prazer ao inalar e soltar fumaça. A ideia desse modelo de tratamento é impedir a molécula viciante de chegar ao cérebro, onde ela estimula a liberação de dopamina, o neurotransmissor por trás daquela sensação de bem-estar.
Fase de testes A medicação da Pfizer está em uma fase de pesquisa em que os cientistas investigam a sua segurança em seres humanos. Assim, ainda deve levar um tempo até que esteja disponível para os que desejam dar adeus à vontade de abrir um maço. "Por enquanto, o que se pode afirmar é que a vacina é inovadora e muito promissora", diz Correia. Acontece que, se na teoria tudo funciona bem, os experimentos em laboratório têm demonstrado que há desafios pela frente. Isso porque outras vacinas com mecanismos parecidos já foram testadas e não obtiveram bons índices de sucesso. "As duas grandes dificuldades são criar um anticorpo específico que se una à nicotina sem afetar outras moléculas e fazer com que o sistema imune reconheça e aprenda a produzir sozinho esse novo tipo de defesa", esclarece o psiquiatra Thiago Marques Fidalgo, do Grupo de Apoio ao Tabagista do A.C. Camargo Cancer Center, em São Paulo. Muito além da nicotina Em meio às dúvidas, já há uma previsão mais certeira: mesmo que as vacinas demonstrem eficácia em seres humanos, não vencerão sozinhas a dependência. O motivo é que a compulsão por tragar um cigarro não está ligada apenas a aspectos biológicos, mas também emocionais e comportamentais. "Parar de fumar exige, em primeiro lugar, que o indivíduo esteja motivado. Depois, é preciso que ele seja orientado, por meio de terapia, a rever e mudar o seu comportamento. E, por último, vem o tratamento farmacológico, no qual entraria a vacina", contextualiza a pneumologista Suzana Erico Tanni, da Universidade Estadual Paulista (Unesp), em Botucatu, no interior de São Paulo. E o cigarro eletrônico? Muito se discute se esse bastão carregado de nicotina em vapor seria uma alternativa. A questão é que, além de ser proibido no Brasil, há quem diga que ele faz mal à saúde. "Aquela fumaça pode, sim, conter substâncias tóxicas. Ainda temos muito o que estudar", diz o pneumologista Oliver Nascimento, da Universidade Federal de São Paulo.
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