Vicente Nunes - Correio Braziliense
A servidora aposentada Sandra Gonçalves, 65 anos, decidiu que, com a chegada do ano-novo, finalmente cumprirá a promessa de colocar as finanças em dia. Ao detalhar suas dívidas — cartão de crédito, carro, casa própria, cheque especial e carnês de lojas e financeiras — deu-se conta de que ou corta gastos agora ou se afunda de vez. O rendimento mensal de R$ 18 mil não comporta mais despesas. Nem mesmo o reajuste das escolas dos netos e os impostos tradicionais de início de ano, do automóvel e do apartamento em que vive com bastante conforto. “Em 2015, já serei outra mulher. Mais prudente, responsável nos gastos e com capacidade de poupança para enfrentar surpresas”, promete.
A nova Sandra surgirá em um momento crucial para o país. Quando 2015 chegar, um mandato presidencial terá início. E, seja Dilma Rousseff, seja qualquer outro o vencedor das urnas, uma fatura pesada estará à espera. O futuro comandante do Brasil terá de lidar com problemas que a aposentada nem sequer imagina, mas que terão impacto na vida de todos os brasileiros. “O ano de 2015 será de inflação alta, juros elevados, crédito restrito e baixo crescimento, o que pode resultar em aumento do desemprego, mesmo que em ritmo lento”, diz o presidente da Consultoria Macroplan, Cláudio Porto.
O quadro sombrio não surpreende Vagner Alves, economista da gestora de recursos Franklin Templeton. “Infelizmente, um pesado ajuste terá de ser feito. Muitos equívocos foram cometidos nos últimos três anos e devem se repetir em 2014. Em 2015, virá o acerto de contas”, afirma. Assim que tomou posse, em 2011, Dilma optou por uma virada na política econômica. Adotou o que batizou de “nova matriz”, baseada em juros mais baixos, gastos públicos maiores e dólar em alta. Abriu mão do tripé que, desde 1999, havia colocado o país no caminho da estabilidade e da previsibilidade: metas de inflação, câmbio flutuante e ajuste fiscal. Criou uma onda de incertezas.
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