Há exatos 20 anos, o governo de Hong Kong mandou demolir a Cidade Murada de Kowloon, um dos conjuntos populacionais mais densos da história. Na ocasião, a área tinha 0,3 quilômetro quadrado e concentrava 500 prédios, ocupados por 50 mil pessoas. Conhecida em cantonês como “a cidade das trevas”, a Cidade Murada de Kowloon teve uma história tão caótica quanto sua ocupação. No começo do século XIX, era um posto militar chinês. Após o Reino Unido ocupar Hong Kong, em 1898, tornou-se uma região abandonada. Durante a Segunda Guerra Mundial, o Japão arrasou o lugar. Depois da rendição japonesa, ele virou um território sem governo – fora da jurisdição tanto da China quanto do Reino Unido – e passou a atrair refugiados de guerra. Sem planejamento, centenas de prédios foram erguidos desordenadamente, grudados uns aos outros. Na falta de serviços públicos, os residentes cavaram poços para ter acesso à água. As condições de higiene eram precárias. O lixo era armazenado no terraço dos prédios. Na década de 1980, a região, por fim, virou um polo de bordéis e cassinos, orbitado por traficantes de drogas.
A Cidade Murada de Kowloon deixou de existir, mas o planeta todo poderá tornar-se uma versão amplificada dela. Ao menos, essa é a visão de futuro do britânico Stephen Emmott, chefe do laboratório de pesquisas da Microsoft e professor de ciência da computação na Universidade de Oxford. Em seu livro 10 bilhões (Editora Intrínseca, 208 páginas), lançado recentemente no Brasil, Emmott relaciona uma série de projeções para demonstrar que a Terra está à beira do apocalipse demográfico. Atualmente com 7 bilhões de pessoas, a população mundial, segundo Emmott, deverá atingir 10 bilhões em 2050 e 28 bilhões em 2100. “Estamos mergulhando num problema sério e ainda não fizemos nada para combatê-lo”, disse Emmott a ÉPOCA. “As consequências drásticas de ações como queimar combustíveis fósseis, produzir alimentos e poluir a atmosfera ainda estão por vir.”
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