Acredite se quiser
O ex-presidente Lula, fundador e, sem dúvida alguma, o nome do PT de maior prestígio, criticou a própria legenda em entrevista concedida ao jornal espanhol “El País” publicada neste domingo. Lula afirmou que, contradizendo com as origens do partido, há atualmente petistas que atribuem valor exagerado ao Parlamento e aos cargos públicos. Ele chegou a dizer: “O PT era um partido pequeno que depois passou a ser grande, e, como tal, foram aparecendo defeitos. Gente que valoriza muito o parlamento; outros, os cargos públicos”. Como sempre acontece, Lula também acusou a imprensa brasileira de ter condenado à prisão perpétua’ os petistas envolvidos no escândalo do 'Mensalão do PT';
Em outro trecho da entrevista, Lula ressaltou: “O Partido dos Trabalhadores completou 33 anos de vida. Quando você chega a essa altura, quem começou há 35 anos deve dar espaço a uma nova geração. Esse é um partido que foi criado pelos trabalhadores e criado por ele, e já se converteu no mais importante da esquerda da América Latina”. Ele ainda ponderou que em seus primeiros anos o partido era mais 'ideológico'. “A gente trabalhava de graça, de manhã, de tarde, de noite. Agora, você faz uma campanha e todo mundo quer cobrar. Não quero voltar às origens, porém, gostaria que não esquecêssemos para que nós fomos criados. Por que queríamos chegar ao governo? Não para fazer o que os outros faziam, mas para agir de maneira diferente”, disse ainda o ex-presidente.
Ao abordar o 'Mensalão do PT', Lula lembrou que diz aos companheiros é que só há uma forma de não ser investigado neste país: não cometer erros. No caso dos companheiros do PT, ele diz que eles já foram previamente condenados e que alguns meios de comunicação, independentemente de juízo, os condenaram à prisão perpétua. E diz: "Alguns nem podem sair às ruas. Eu insisto, devemos ser 150% corretos, porque se nos equivocamos em um 1%, os olhos de nossos adversários e de determinados meios de comunicação nos levarão a 1.000%";
Sua mágoa contra a imprensa continua: "Eu sou um democrata. Defendo a liberdade de imprensa. Sou o resultado disso. Nunca a imprensa brasileira falou bem de mim, no entanto, jamais me importei. Nunca pedi favores. Quem julga a imprensa são os leitores, o público. Porém, em alguns países latino-americanos devemos adaptar as leis ao tempo em que vivemos. No Brasil, são nove famílias que controlam os meios de comunicação. O que mudou um pouco o cenário é a internet. Não se trata de interferir nos conteúdos, obviamente, mas democratizar, ampliar o acesso";
Para quem um dia, logo após a revelação da existência do 'Mensalão do PT', quando disse em Paris que havia sido apunhalado pelas costas, e também para quem depois afirmou que o mesmo episódio era uma farsa, o que se observa é que está valendo mesmo uma outra afirmação, quando declarou-se como sendo uma metamorfose. Isto é verdade, pois ninguém tem mudado tanto de posição quanto ele. Daí, não dar para acreditar em mais uma afirmação de Lula na entrevista a jornal espanhol: "Não pretendo ser candidato em 2014. Eu já tenho minha candidata, que é Dilma, e vou trabalhar por ela". Só o tempo dirá. E as pesquisas, o que é óbvio.
Complementando:
Sobre o mesmo assunto, não podíamos deixar de transcrever este mini-editorial publicado na edição de hoje de 'O Globo' junto à matéria que repercute a entrevista de Lula ao jornal espanhol:
Mania
Na esteira da repercussão do escândalo do mensalão, em 2005, o então presidente Lula pediu desculpas à nação.
Depois, passou a negar o caso. Agora, em entrevista ao espanhol "El País', admite que a corrupção se infiltrou no PT à medida que o partido crescia. Menos mal.
O cambiante Lula só não muda é na tentativa risível de culpar a imprensa profissional por essa mancha na história do partido. É a velha mania de culpar o mensageiro pelas más notícias. por Airton Leitão
Nenhum comentário:
Postar um comentário