Os filmes de bangue-bangue forneceram informações cruciais para a neurociência. Ao analisar as reações cerebrais de pessoas e de macacos que assistiram ao clássico Três homens em conflito (título original Il Buono, Il Brutto, Il Cattivo, de 1966, de Sergio Leone), cientistas observaram uma série de diferenças na arquitetura funcional dos cérebros destas espécies.
O objetivo do trabalho, publicado nesta segunda-feira na revista “Nature Methods”, é ajudar a superar as dificuldades que os cientistas enfrentam quando compararam símios e humanos, separados por milhões de anos de evolução.
O ponto de partida foi outra pesquisa, de 2004, na qual Uri Hasson e equipe usaram ressonância magnética para analisar os cérebros de cinco pessoas que assistiram a um clipe de 30 minutos do filme. Eles detectaram regiões do córtex cerebral que registraram maior atividade, em especial nas partes visual e auditiva, e que os padrões de ativação eram notavelmente semelhante em todos eles. Essa sincronia levou os pesquisadores à conclusão de que filmes podem fazer com que seus espectadores tenham reações cerebrais semelhantes.
A partir deste experimento, Hasson resolveu testar a hipótese de que essa comparação também pode ser possível entre espécies diferentes. O método, chamado de correlação de atividade entre espécies, compara os padrões de ativação cerebral observados em humanos com os de macacos.
Os pesquisadores, então, recrutaram 24 pessoas, que tiveram o mesmo padrão de atividade cerebral ao ver o filme em relação aos resultados do estudo de 2004. Em seguida, exibiram o mesmo clipe seis vezes para quatro macacos. Os animais também apresentaram padrões de atividade semelhante entre si.
Na hora de comparar humanos com macacos, os cientistas concentraram-se em 34 regiões distintas do córtex visual. Em ambas as espécies, a informação visual é processada de forma hierárquica. Em macacos, aproximadamente metade do córtex é dedicado ao processamento da visão.
Durante o curso da evolução humana, houve uma grande expansão da superfície cortical. O córtex visual humano não cresceu tanto, mas ganhou sub-regiões especializadas. Grande parte do aumento de tamanho do cérebro humano ocorreu em outras partes, incluindo o córtex pré-frontal, na parte da frente do cérebro, envolvido em tarefas complexas, como a tomada de decisão.
Isso explica porque os pesquisadores observaram algumas diferenças surpreendentes entre as espécies. Áreas sem correspondência foram ativadas ao mesmo tempo, enquanto áreas que deveriam desempenhar um papel semelhante entraram em atividade em momentos diferentes. Para especialistas, este fato sugere os seres humanos desenvolveram funções completamente novas.
"Algumas funções são deslocadas para locais não previstos pela anatomia. Isto sugere que o cérebro humano não é simplesmente uma versão ampliada do cérebro do macaco", diz Wim Vanduffel, da Harvard Medical School. Da Agência O Globo
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