Em 2018, a Prefeitura do Rio passou a ter dificuldades para pagar todos os fornecedores e tinha que escolher quais empresas seriam pagas. Segundo o Ministério Público, a crise foi vista como uma oportunidade: empresários de serviços não essenciais que pagavam propina seriam privilegiados na hora do pagamento, em detrimento de outras firmas.
A revelação foi feita em entrevista coletiva nesta terça-feira (22), pouco após a prisão de Crivella, pelo promotor do Ministério Público Carlos Eugênio Greco.
“A partir de 2017, especialmente em 2018, a Prefeitura do Rio enfrentou uma crise muito aguda, que foi lida como ‘oportunidade’ de receber valores espúrios. A partir do momento em que tinha, supondo, R$ 100 milhoes pra pagar e só R$ 70 milhões no caixa criava-se a necessidade de escolher quem pagar. Empresários que faziam serviços não essenciais recebiam os pagamentos mesmo nos momentos de crise e isso acontecia justamente por conta do pagamento de propina”, conclui.
O esquema movimentou pelo menos R$ 50 milhões, apesar da “situação de penúria” da administração municipal, nas palavras do subprocurador-geral Ricardo Ribeiro Martins.
Ele afirmou ainda que há indícios de que a “organização criminosa não se esgotaria” ao fim do mandato e, por isso, houve o pedido de prisão.
Crivella foi preso na manhã desta terça-feira (22) em sua casa na Barra da Tijuca, Zona Oeste do Rio, em uma operação do MP e da Polícia Civil que aponta a existência de um “QG da Propina” na administração municipal. Crivella seria o líder da organização criminosa.
À tarde, uma audiência de custódia no Tribunal de Justiça do Rio confirmou a prisão do prefeito – agora afastado do cargo – e de outras três pessoas:
Rafael Alves, empresário apontado como operador do esquema;
Mauro Macedo, ex-tesoureiro da campanha de Crivella;
Cristiano Stockler Campos, empresário.
Eles foram levados para o presídio de Benfica, na Zona Norte, porta de entrada do sistema carcerário do Rio. De lá, a Secretaria de Administração Penitenciária definiria outros presídios para onde eles seriam levados. À noite, o STJ substituiu a prisão preventiva de Crivella por prisão domiciliar, com tornozeleira eletrônica.
Outros dois presos na operação, o delegado aposentado Fernando Moraes e o empresário Adenor Gonçalves dos Santos, estão com Covid-19 e vão aguardar uma audiência remota nesta terça em um hospital penitenciário. *G1