SOCIÓLOGO DIZ QUE LAVA JATO FERE INTERESSES DOS QUE USAM O ESTADO EM SEU BENEFÍCIO E QUE IMPEDIMENTO DE DILMA FREARIA ESSE PROCESSO
ELEONORA DE LUCENA*DE SÃO PAULO
A Operação Lava Jato está expondo o coração do capitalismo brasileiro, que é inteiramente corrupto. Ela fere interesses empresariais e políticos que usam o Estado em seu benefício. Quem defende o impeachment hoje quer que essa limpeza acabe. Por isso, o impeachment serve aos corruptores e corruptos.
A visão é do sociólogo Adalberto Cardoso, 53, diretor do Instituto de Estudos Sociais e Políticos da Universidade Estadual do Rio de Janeiro. Para ele, é ingenuidade não identificar interesses externos na crise política.
Cardoso afirma que o projeto sobre terceirização leva as relações de trabalho para o século 19. Mas mobilizações mudaram a qualidade do debate sobre o tema, afirma, e votar a favor da mudança na CLT é suicídio político.
Como o sr. avalia os desdobramentos da crise política após a prisão do tesoureiro do PT?
A corrupção é uma prática empresarial antiga no Brasil. Vivemos hoje parte de um processo de limpeza e, espero, de correção dessa herança de conluio entre o público e o privado. As elites e vários agentes sociais não sabem separar púbico e privado. O Estado sempre funcionou a serviço das elites econômicas. Quando há um amplo combate à corrupção, o potencial de crise é grande.
O que a Lava Jato está expondo é a forma como o capitalismo se organiza no país. Ele é constituído de forças capazes de corromper os poderes públicos para que a sua atividade possa caminhar. Existe uma simbiose grande entre agências estatais e grandes corporações e grupos econômicos, que usam o Estado como agente seu.
A Lava Jato está mexendo com profundos interesses empresariais e políticos. Aqueles que clamam pelo impeachment estão querendo impedir que essa limpeza continue. O impeachment hoje serve aos corruptores e aos corruptos.
A história recente mostra que há um certo viés na ação anticorrupção. Só petista ou próximo ao PT vai para cadeia. Há uma profunda revisão do que é o nosso capitalismo, e o agente desse processo é o governo. Nenhum outro governo jamais fez isso.
Como avalia as posições que apontam interesses externos nesse ambiente, especialmente sobre Petrobras e pré-sal?
Seria ingenuidade achar que não há interesses internacionais envolvidos. Trata-se da segunda maior jazida do planeta. O impeachment interessa às forças que querem mudanças na Petrobras: grandes companhias de petróleo, agentes nacionais que têm a ganhar com a saída da Petrobras da exploração. Parte desses agentes quer tirar Dilma.