Executivas à frente da iD\TBWA, DreamOne e 270B comentam sobre os desafios de gerir agências em um setor majoritariamente liderado por homens
Lembrado desde o início do século XX em países como Alemanha e Estados Unidos, o Dia Internacional da Mulher, comemorado em 8 de março, foi oficializado pela ONU - Organização das Nações Unidas - em 1975 com o objetivo de endossar a luta e resistência feminina por direitos iguais em todos os campos sociais. Passados quase 50 anos, inúmeros fatores evoluíram, porém ainda há um longo caminho a ser percorrido em diversos segmentos no Brasil. O caso não é diferente quando entramos na seara das agências de publicidade.
Segundo o último levantamento realizado pelo Observatório da Diversidade na Propaganda em parceria com a Gestão Kairós, apenas 15% dos cargos de CEOs nas agências são ocupados por mulheres. Fora do mercado publicitário, o número aumenta para 17% nesta posição, conforme os dados do Panorama Mulheres 2023, estudo anual que é idealizado pela Talenses Group.
A seguir, três executivas que fazem parte dessas estatísticas nas agências de publicidade do país trazem os principais percalços para chegar ao posto de liderança e os desafios enfrentados no dia a dia, visando inspirar outras mulheres a trilharem o mesmo caminho.
Camila M. Costa, sócia e CEO da iD\TBWA
Camila iniciou sua carreira ainda no offline, em Salvador (BA), mas foi em São Paulo que enfrentou o desafio de expandir uma agência de ativação para um mercado com maior potencial, mais complexo e competitivo. Imersa no mundo digital desde a era do Orkut, adquiriu experiência e pioneirismo em plataformas digitais, tecnologia e mídia. Atualmente, há 10 anos à frente da iD\TBWA, como CEO, Camila lidera uma agência com mais de 220 talentos, empregando uma visão de negócios que integra dados, criatividade e inovação para desenvolver plataformas de crescimento aos clientes. Com mais de 20 anos de experiência, a profissional de Comunicação e Marketing construiu uma jornada sólida e abrangente na publicidade.
Como mulher em uma posição de liderança, ela reforça que os desafios e o esforço para crescer e ganhar destaque são maiores. “Posso dizer que a grande oportunidade quando assumi a iD\TBWA foi criar uma nova estratégia de transformação e crescimento para seguir gerando valor, na evolução do que já estava estabelecido. Em um mercado predominantemente dominado por homens, conquistar a confiança e o engajamento de diversos stakeholders (clientes, times, líderes, acionistas e parceiros), é um desafio que diariamente precisa ser superado, ao mesmo tempo em que fortalecemos a marca e entregamos resultados no curto prazo”, enfatiza.
Hoje, segundo a executiva, o desenvolvimento de uma cultura capaz de empoderar mulheres e gerar avanços em diversidade é um dos principais objetivos dentro da agência. “Estar à frente de uma agência faz com que grande parte do meu tempo seja dedicado a potencializar talentos e criar um ambiente em que as pessoas se sintam motivadas em suas carreiras. É isso que reflete na qualidade das entregas e forte parceria com nossos clientes.”, afirma Camila. “De uma década para cá, evoluímos em muitas frentes, mas sempre podemos ir além. Hoje, temos em nossa equipe 104 mulheres, sendo 10 em cargos de liderança, o que representa 40% dos cargos de diretoria na iD\TBWA. O objetivo nos próximos anos é aumentar ainda mais esses índices”, conclui Costa.
Giselle Freire, CEO e diretora de contas da DreamOne
Giselle Freire começou a empreender muito nova, e tinha 25 anos quando fundou a DreamOne, agência de marketing integrado. Segundo a executiva, conquistar o respeito e a confiança sendo mulher e jovem em um meio masculino foi um grande desafio, especialmente porque, na época, existiam ainda menos mulheres em cargos de liderança.
“Foi um caminho longo, precisei me impor várias vezes e só comecei a ser vista e respeitada quando o resultado do trabalho da agência foi sendo reconhecido”, aponta a CEO. “Na DreamOne, acreditamos que quanto mais diversa nossa equipe for, melhor será nossa visão de mundo e de mercado. Isso nos ajuda a criar um ambiente criativo, com muita troca entre os profissionais, refletindo em todos os nossos trabalhos. Hoje, 60% de nossa equipe é composta por mulheres e 36% delas estão em cargos de gerência e diretoria, índice bem alto em relação ao mercado”, acrescenta.
A executiva acredita que o mercado está um pouco mais aberto às demandas de igualdade de gênero, comparado há alguns anos, mas ainda é preciso avançar muito quando se trata de remuneração e cargos de liderança. “Eu sempre me preocupo em abrir caminhos para as novas gerações dentro da agência, de modo que não tenham que enfrentar os mesmos desafios que eu precisei superar”.
A maior conquista para Giselle é ver que, depois de 24 anos, a DreamOne atua com clientes estratégicos e uma equipe engajada que ama o que faz. “No Brasil não é fácil empreender, um alto número de negócios não sobrevive ao primeiro ano, então, isso me deixa ainda mais orgulhosa”, finaliza.
Alessandra Bottini, CEO da 270B no Brasil
Nascida e criada na cidade de São Paulo, Alessandra é uma profissional consolidada com mais de 11 anos de experiência nos setores de publicidade e desenvolvimento de negócios, reconhecida por sua visão inovadora e internacional. Com mais de 23 anos de residência nos Estados Unidos, a executiva ocupou diversos cargos de liderança em diferentes áreas, incluindo finanças, pesquisa de mercado e, mais recentemente, publicidade.
Em 2015, Alessandra ingressou na 270B, agência full service, com sede nos Estados Unidos, desempenhando um papel crucial no notável crescimento da agência. Há dois anos, a agência aterrissou no Brasil e a executiva assumiu o cargo de CEO. “Vejo minha posição como uma oportunidade de promover diversidade e inclusão no ambiente corporativo, especialmente em um setor onde a representatividade feminina, historicamente, tem sido menor”, conta.
A c-level tem uma visão otimista em relação a mulheres na liderança, mas reconhece que ainda há muito trabalho a ser feito para garantir uma representação equilibrada em todos os níveis hierárquicos. “Ainda existem muitos desafios estruturais e culturais que precisam ser superados. Isso inclui a persistência de preconceitos inconscientes, barreiras de acesso à educação e oportunidades de desenvolvimento profissional, sem falar na falta de redes de apoio e mentoria para mulheres em cargos de liderança”, pontua.
Alessandra acredita que, para o mercado continuar avançando nesse cenário, é essencial que empresas e organizações adotem políticas e práticas inclusivas, promovam a igualdade de oportunidades e criem um ambiente de trabalho que valorize e apoie o crescimento e o desenvolvimento profissional das mulheres. “O fato de ocupar um cargo de liderança como mulher representa uma quebra de barreiras e uma oportunidade de inspirar outras mulheres a perseguirem seus objetivos profissionais, independentemente das expectativas sociais e das normas de gênero”.
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