Matheus Pichonelli*Yahoo Notícias
O ex-ministro da Educação Abraham Weintraub. Foto: Andre Borges/NurPhoto (via Getty Images)
No sábado (20), dia em que o Brasil chegou a 50 mil mortes por coronavírus, só nas contas oficiais, o ainda ministro da Educação, Abraham Weintraub, pegou um avião e usou o passaporte diplomático para entrar nos EUA.
Com risco de ser preso no Brasil, foi exonerado naquele dia mesmo em edição extra do Diário Oficial. Chegamos, assim, a um momento de alta tensão da pandemia com interinos nos ministérios da Educação e da Saúde -- por onde já passaram três titulares.
Dois meses antes da fuga, Weintraub participou da famosa reunião de 22 de abril. A proposta de prender vagabundo, a começar pelo STF, era sua principal contribuição para a crise da pandemia que ameaça a realização, por exemplo, do Enem. Atacar o sistema de cotas para pós-graduação foi seu ato final na pasta.
Weintraub, o mais bolsonarista dos ministros (ok, a competição com Ernesto Araújo e Ricardo Salles é pesada), deixou o cargo da mesma forma como entrou: sem prestar qualquer serviço à educação do país.
A inapetência do ministro foi dissecada num relato feito no Twitter pela jornalista de O Estado de S.Paulo Andreza Matais:
“Estive com o ministro Weintraub uma vez. No gabinete, eu e outros dois colegas fomos recebidos por ele e por uma assessora que passou o tempo todo deitada no sofá. O ministro contou que aos 10 anos comprou numa quermesse a versão em inglês de ‘A revolução dos bichos’. Tentamos saber quais os planos do ministro para educação, suas prioridades para o MEC. Saímos com o bloco vazio. Foi a pior experiência da minha vida profissional”.
Assim como seu antecessor, o folclórico Ricardo Velez Rodriguez, Weintraub recebia em dia, dos cofres públicos, R$ 30 mil para passar os dias no Twitter. Numa conta baixa, são R$ 540 mil em dinheiro público para bancar projetos que saíram do nada para lugar algum. Weintraub ganhou salário de ministro de Estado trabalhando como tuiteiro incapaz de usar “ss” no lugar do “ç”.
Isso sem contar o quanto ganham os assessores que passam as horas de entrevista no sofá.
De presente, ganhou a indicação para um posto de representação no Banco Mundial onde ganhará R$ 115 mil mensais.
Uma boca e tanto para quem prometia acabar com a farra com dinheiro público. Nada que cause arrepio para quem transformou o governo numa reunião de amigos e filhos de amigos -- entre eles um consultor de comunicação extraoficial, para usar um eufemismo, que recebe religiosamente seu salário como vereador no Rio.
Além de explicar o que Fabricio Queiroz fazia na casa de seu (agora ex) advogado, o presidente têm muito a dizer por que seu ex-assessor recolhia dinheiro vivo dos servidores do gabinete do então deputado estadual Flávio Bolsonaro e pagava a mensalidade de seus netos com dinheiro vivo.
Bolsonaro pai poderia explicar também por que sua ex-assessora na Câmara dos Deputados Nathália Melo de Queiroz, filha de Fabrício, recebeu, só entre julho e novembro de 2018, R$ 101 mil e repassou R$ 29,6 mil para seu pai. Ninguém sabe também como ela batia ponto em Brasília enquanto trabalhava como personal trainer no Rio.
Seria ótimo também se viessem a público as conexões entre o ex-assessor da família e o miliciano que levava uma vida nababesca na Bahia até ser morto numa troca de tiros com a polícia.
No inquérito sobre as manifestações antidemocráticas, a Procuradoria Geral da República acusa quatro deputados bolsonaristas de usarem dinheiro público para divulgar os atos em suas redes sociais. A verba, suspeita-se, vem da cota parlamentar. Coisa de R$ 30,3 mil, repassados para a empresa do marqueteiro responsável por cuidar da marca “Aliança pelo Brasil”, futuro partido dos Bolsonaro.
Em 18 meses de gestão, o presidente que prometia governar sem toma-lá-dá-cá e com um ministério enxuto, com no máximo 15 nomes técnicos, abriu as comportas da administração para o centrão e já estuda criar o 24º ministério.
Bolsonaro prometia moralizar a gestão do dinheiro público, mas surta quando é questionado sobre a explosão de gastos com cartão corporativo, faz o que pode para ofuscar a transparência de dados oficiais, mantém em postos públicos que tem um pé em interesses privados e não vê problemas em repassar milhões à empresa da ex-mulher de seu advogado.
Tudo isso está saindo caro. Muito caro.
No auge da crise sanitária, política e econômica, a ideia mais brilhante do mais prestigiado deles, o Posto Ipiranga Paulo Guedes, era vender a “porra” do Banco do Brasil, abrir cassinos para deixar coitado “se foder” e colocar jovem para cantar o hino nacional de manhã e construir estradas à tarde em troca de R$ 200.
O circo é financiado com dinheiro público, mas as vidas perdidas na pandemia são os registros mais trágicos do preço da incompetência.
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