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sexta-feira, 22 de novembro de 2019

Bolsonaro e meio ambiente: Plantar capim só serve para boi abanar rabo, já diria Raul Seixas

por Fernando Duarte / BN
Foto: José Dias/ PR
“Num planto capim-guiné
Prá boi abaná rabo
Eu 'tô virado do Diabo, eu 'tô retado cum você
'Tá vendo tudo e fica aí parado
Com cara de viado que viu caxinguelê.”

Como diria Raul Seixas e Wilson Aragão, desde a década de 1970, não vale a pena plantar capim-guiné. Apesar disso, o presidente da República, Jair Bolsonaro, sugeriu que a imprensa comesse capim quando se recusou a responder perguntas sobre a questão ambiental no Brasil. Não foi a primeira derrapada do presidente ao tratar do assunto ao longo da semana. Um dia após a divulgação de que houve um aumento de quase 30% do desmatamento da Amazônia, o presidente sugeriu que é parte da cultura brasileira cometer crimes ambientais. Ontem, voltou a tratar com desdém do tema. 

Para Bolsonaro, as leis de proteção ambiental e a criação de reservas são um problema para a expansão do agronegócio. Ele não está isolado. É impensável falar sobre a economia brasileira sem tratar essa área como um dos motores do Produto Interno Bruto (PIB). Porém, ao expandir fronteiras agrícolas sem preservar ecossistemas, é provável que o Brasil sofra sanções dos principais mercados consumidores, que agora ampliaram o que genericamente chamamos de “consciência ecológica”. Ou seja, até mesmo o capitalismo tradicional começa a dar sinais de que o dinheiro pelo dinheiro pode não ser o essencial para atingir clientes.

É uma lógica perversa. De certo, o agronegócio foi essencial para validar – e de alguma forma legitimar – a eleição de Bolsonaro. Durante os anos sob governo do PT, apesar dessa área econômica ter crescido mais do que outros setores, havia limitações necessárias para o equilíbrio ambiental. Nem tudo eram flores. São diversos os relatos de produtores sobre excesso de burocracia ou da presença do Estado que, ao invés de ajudar na produção, atrapalhava. Algumas queixas exageradas, mas não completamente sem sentido.

O xis da questão é que, mesmo que fosse necessário o afrouxamento de certas regras, o governo federal resolveu facilitar demais a vida de quem deseja expandir fronteiras agropecuárias em detrimento à preservação ambiental. Desde o início do ano, foram aprovados 410 novos agrotóxicos. O Inpe, que divulga levantamentos regulares sobre queimadas e desmatamentos na Amazônia, foi desacreditado. O Brasil assistiu praticamente inerte à chegada de petróleo bruto nas praias do Nordeste, sem qualquer solução após mais de dois meses que o problema começou. Uma sucessão de erros que mostram inaptidão do governo para lidar com o tema meio ambiente.

Do clássico do Maluco Beleza, o país pode ao menos tirar uma lição. Devemos admitir que plantar “Capim-Guiné” não vai fazer ninguém matar a fome. Mas por mais que não seja o objetivo de Bolsonaro acabar com o meio ambiente – ao menos é isso que ele sugere –, também não podemos simplesmente assistir a “malvadeza de todo bicho vindo para cá”. 

“Com muita raça, fiz tudo aqui sozinho
Nem um pé de passarinho veio a terra semear
Agora veja, compadre, a safadeza
Começou a malvadeza, todo bicho vem prá cá.”

Este texto integra o comentário desta sexta-feira (22) para a RBN Digital, veiculado às 7h e às 12h30, e para as rádios Irecê Líder FM, Clube FM, RB FM, Valença FM e Alternativa FM Nazaré.

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