por Anna Virginia Balloussier | Folhapress
A mulher "nasceu para ser mãe", seu "papel mais especial", e dizer que elas estão em guerra com os homens é uma lorota feminista.
É assim que a pastora evangélica Damares Alves, anunciada nesta quinta-feira (6) como ministra dos Direitos Humanos de Jair Bolsonaro (PSL), versa sobre o feminismo em entrevista gravada no dia 8 de março, Dia Internacional da Mulher, para um site conservador do Rio Grande do Norte, o Expresso Nacional.
Ela, que numa pregação de 2013 se descreveu como pastora, professora, advogada e corintiana, trabalha, por um salário líquido de R$ 4.408, no gabinete do senador Magno Malta (PR-ES), aliado de primeira hora do presidente eleito que acabou esnobado para um cargo na Esplanada.
Damares já fez a assessoria jurídica da Frente Parlamentar Evangélica, na qual ficou conhecida pelo bom trânsito com parlamentares. Diz-se mestre em educação e em direito constitucional e da família. Também é creditada como fundadora da Atini, uma entidade que zela por crianças indígenas.
Ao Expresso Nacional, por exemplo, afirmou que a ideologia de gênero é "morte, é morte de identidade", além de maldizer o aborto e a legalização das drogas. Todas as "pautas de esquerda", aliás, são "a morte" em sua opinião. "O menino abestado por maconha e abusado não vai liderar uma nação, é massa de manobra, [...] não tem senso de crítico."
Com carreira profissional hiperativa, ela diz que, ao contrário do que feministas propagandeariam, é possível, sim, ser do lar e do mercado de trabalho. "Me preocupo com ausência da mulher de casa", diz a pastora da Igreja Quadrangular, que brinca em seguida: amaria passar a tarde deitada na rede, "e o marido ralando muito, muito, muito para me encher de joias". Compara a imagem materna com "a da galinha com seus pintinhos embaixo da asa".
Ela já contou ter sido uma "sobrevivente da pedofilia", após ter sido "barbaramente estuprada" aos seis anos. O ataque teria a deixado incapaz de engravidar.
O assunto, portanto, tem sua atenção máxima, diz. Para abordar os perigos virtuais, compartilha a história de uma menina que queria procurar na internet "trança embutida", escreveu "transa" e "entrou em choque" com o que viu.
O problema começa com bandas típicas do celeiro progressista, como a roqueira gaúcha Bidê ou Balde?, que tem a música "E Por Que Não?", que vai assim: "Eu estou adorando/ Ver a minha menina/ Com algumas colegas/ Dela da escolinha". O grupo chegou a homologar um acordo numa Vara da Infância que os impede de executar a canção novamente.
A nomeação de Damares foi elogiada por quatro parlamentares evangélicos que a reportagem consultou. Um mais próximo de Magno Malta, contudo, disse que o senador não reeleito se sentiu escanteado por Bolsonaro e que vê na indicação de sua assessora uma vã tentativa de colocar panos quentes em sua mágoa com o presidente eleito.
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