por Renata Farias**Foto: Camila Souza / GOVBA
“O retorno ao trabalho é entendido como um dos aspectos de retorno à normalidade na vida do paciente com câncer”. No entanto, na opinião da oncologista Luciana Landeiro, esse é um assunto pouco discutido no Brasil.
Um estudo conduzido pela médica baiana, da equipe do Núcleo de Oncologia da Bahia (NOB), revelou que mulheres com diagnóstico de câncer de mama têm dificuldade de manter suas atividades no mercado de trabalho.
“O objetivo era tentar entender um pouco mais as dificuldades da nossa população. A princípio, o objetivo foi avaliar uma população de pacientes do SUS. O estudo foi conduzido no ICESP, que é o Instituto do Câncer do Estado de São Paulo, que atende apenas a pacientes do SUS”, explicou ao Bahia Notícias.
Foram acompanhadas 125 mulheres ao longo de dois anos, após o diagnóstico de câncer de mama. A pesquisa coletou dados sobre características demográficas, situação de emprego, saúde, comorbidade, tipo de emprego, apoio dos empregadores e parceiros de vida, ganho de peso, dor e linfedema. As participantes também foram questionadas sobre a postura do empregador, as necessidades de tratamento do câncer e a discriminação após o diagnóstico da doença.
“O que a gente observou é que 40% das pacientes, em dois anos, não tinham retornado ao trabalho. Quando a gente olha para os dados de fora do país, percebe que isso [o número de mulheres que voltou] é inferior os dados americanos e europeus. Os dados brasileiros se aproximam aos dados da população americana que não tem plano de saúde e usa o Medicare. Ainda assim, o retorno ao trabalho da nossa população é menor”, disse Luciana.
Antes do diagnóstico do câncer de mama, 81% das pacientes entrevistadas tinham emprego em tempo integral - 59,5% eram as principais responsáveis pela renda familiar e 14,9% eram autônomas. A maioria das pacientes (94%) gostava de sua atividade de trabalho e recebeu apoio de seu empregador (73%) depois que foram diagnosticadas com câncer de mama. No entanto, apenas 29,1% de mulheres relataram ter sido oferecido algum tipo de ajuste no seu trabalho.
De acordo com a oncologista, um dos principais fatores que impactam na decisão de retornar ao trabalho é a ausência de apoio do empregador, além da falta de ajustes às necessidades da paciente. Além da necessidade de prosseguir com o tratamento, as pacientes podem apresentar efeitos colaterais. “Após o tratamento, a mulher pode apresentar mais fadiga”. Outros fatores foram a realização de mastectomia, uso de hormonioterapia e diagnóstico de depressão.
“A paciente muitas vezes tem vontade de voltar ao trabalho, mas não pode ter uma carga horária menor, já que nas nossas leis trabalhistas não têm muita flexibilidade. Eventualmente, essa poderia ser uma possibilidade a ser discutida: ganhar um pouco menos com carga horária menor. Outra questão é que as empresas tenham um olhar diferenciado para essas mulheres”, argumentou Luciana.
O estudo também concluiu que as mulheres que recebiam dois ou mais salários mínimos tinham 17 vezes mais chance de retornar ao trabalho do que as ganhavam menos. As mulheres que se submeteram à cirurgia conservadora (que retira o tumor e preserva a maior parte possível da mama) também apresentaram vantagens em comparação às que foram submetidas à mastectomia (retirada cirúrgica da mama). A chance de reinserção no mercado de trabalho foi nove vezes maior para elas.
Agora, a profissional pretende avaliar a situação das pacientes que utilizam a rede privada de saúde. O estudo será desenvolvido em parceria com o Instituto Oncoguia.
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