Quando os seres humanos começaram sua migração fora da África há cerca de 100 mil anos, levaram consigo as sementes genéticas necessárias para ajudar a sobreviver ao frio amargo da Europa e da Ásia.
Mas os mesmos genes continham um fardo doloroso que aflige milhões de pessoas hoje. Segundo um novo estudo, uma variante de genes que ajudou nossos antepassados a sobreviverem a climas extremos também aumenta a probabilidade de desenvolvermos artrite.
De acordo com pesquisadores das universidades de Stanford e Harvard, uma variante do gene GDF5 – que está associada ao crescimento ósseo e à formação de articulações – tem dois efeitos sobre aqueles que carregam mutações do gene: reduz o comprimento do osso (e, posteriormente, a altura) e quase pode dobrar a chance de osteoartrite.
“É claro que a maquinaria genética em torno de um gene pode ter um impacto dramático na forma como funciona”, diz um dos pesquisadores, o biólogo evolutivo Terence Capellini. “A variante que diminui a altura reduz a atividade do GDF5 nas placas de crescimento do osso. Curiosamente, a região que abriga esta variante está intimamente ligada a outras mutações que afetam a atividade de GDF5 nas articulações, aumentando o risco de artrose no joelho e quadril”.
No novo estudo, a equipe identificou uma região de DNA anteriormente desconhecida em torno do gene GDF5. Dentro desta região – chamada GROW1 – os pesquisadores encontraram uma mudança de nucleotídeos que prevalece nos europeus e asiáticos, mas que raramente ocorre em africanos.
A ideia diz que esta mudança genética – que é encontrada na metade dos europeus e asiáticos – foi favorecida quando os homens modernos fizeram a caminhada da África entre 50.000 e 100.000 anos atrás. “Por ter sido selecionada positivamente, esta variante genética está presente em bilhões de pessoas“, diz o biólogo do desenvolvimento, David Kingsley, da Universidade de Stanford.
Mas como uma variante de genes que reduz o crescimento ósseo que ajudou nossos predecessores a sobreviverem em climas mais frios pode ter causado a artrite? A hipótese é que uma estrutura corporal mais compacta com ossos mais curtos pode ter ajudado a conter o risco de quebrar os ossos e sofrer ferimentos graves.
Além de reduzir o risco de membros quebrados, também é possível que o crescimento reduzido facilite a resistência a outros perigos que vêm com clima frio, graças à pele e extremidades menos expostas.
“As proporções dos membros em muitos animais endotérmicos seguem um padrão geográfico clássico chamado regra de Allen, em que as espécies em latitudes mais altas e mais frias desenvolvem apêndices distais mais curtos do que as espécies estreitamente relacionadas em latitudes mais baixas e mais quentes“, explicam os autores. “Os apêndices mais curtos conservam o calor do corpo e diminuem o risco de congelamento nas extremidades em ambientes mais frios“.
A migração para fora da África que aconteceu entre 50.000 e 100.000 anos atrás não foi a primeira jornada desse tipo. Em tempos anteriores, neandertais e denisovanos também fizeram a migração e uma análise do DNA desses ancestrais antigos indicou a variante GROW1, sugerindo que os humanos têm repetidamente favorecido a mutação. Os resultados estão relatados na Nature Genetics.[ Science Alert ] [ Fotos: Reprodução / Flickr ]
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