Temer se apega a recurso ao Supremo, mas o que lhe falta é povo, apoio político e explicações convincentes para as evidências colhidas pela Lava Jato
LEANDRO LOYOLA / epoca.globo
O presidente Michel Temer durante pronunciamento no Palácio do Planalto (Foto: Pedro Ladeira/Folhapress)
Acuado após a delação do empresário Joesley Batista, do grupo JBS, o presidente Michel Temer fez, neste sábado (20), um pronunciamento para falar sobre as suspeitas que pesam em seus ombros. É o segundo em dois dias. Sem tratar do conteúdo, Temer contestou a lisura da gravação feita por Joesley no encontro mantido na calada da noite de 7 de março, no Palácio do Jaburu. Disse que sua defesa vai pedir ao Supremo Tribunal Federal a anulação da prova. Temer apega-se a um recurso jurídico, pois é a saída que lhe resta.
É um ato previsível, pois Temer é um advogado e segue orientação de seu defensor e amigo, Antônio Cláudio Mariz. Tentar derrubar a investigação com base na desconfiança de que a gravação foi editada é importante do ponto de vista jurídico. Mas não apaga um grande peso negativo: quando um presidente da República precisa de um advogado de defesa, é porque seu poder e legitimidade se esvaíram.
Sem querer, Temer faz dois movimentos muito parecidos com os de sua antecessora, Dilma Rousseff, pouco antes de ser obrigada a deixar o poder. Em seus últimos tempos, ela também só tinha à disposição argumentos de advogados para citar em discursos. Assim como ela, Temer também investiu para desmerecer seu acusador, em vez de tratar substancialmente das acusações. Disse que nunca foi próximo de Joesley, acusou-o de lucrar com a crise - algo que merece investigação paralela - e estar vivendo bem em Nova York depois de sacudir o Brasil.
O que Joesley disse só sacudiu o Brasil porque foi dito a Temer. O empresário era, sim, alguém com quem o presidente já lidara - e que ele conhecia bem. Em sua delação, Joesley conta que Temer teve intimidade para lhe pedir doações, dinheiro para pagar marqueteiro, mesada para afilhado e até lidou com executivo de sua empresa. Depois da conversa, ainda pagou propina a um preposto de Temer.
O campo jurídico não é suficiente para salvar o presidente. Temer não tem as ruas a seu lado. Também não tem boa parte da política, desconfiada de sua viabilidade. Um presidente que há dois dias teve de falar em renúncia perdeu muito poder. Temer é o primeiro presidente brasileiro a ser investigado, suspeito de ter cometido os crimes de obstrução de Justiça, corrupção passiva e organização criminosa. Se fosse um civil comum, precisaria de um ótimo advogado. Como é o presidente da República, precisa também de um Congresso para apoiá-lo, popularidade, uma economia bombando e uma defesa capaz de mostrar que nada do que Joesley gravou aconteceu. Cairia bem também que a Operação Lava Jato não tivesse tantas evidências contra ele. Está difícil.
Nenhum comentário:
Postar um comentário