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domingo, 29 de janeiro de 2017

Surto de febre amarela deve se espalhar pelo Brasil, diz OMS

A OMS (Organização Mundial da Saúde) afirma ser esperada a detecção de casos de febre amarela em outros Estados do Brasil além de Minas Gerais, que concentra a maior parte dos registros, Espírito Santo e São Paulo. O país vive o maior surto da doença desde 1980, quando teve início a série histórica.

Em informe desta sexta-feira (27), a entidade diz que as autoridades brasileiras estão tomando medidas apropriadas para conter o surto, mas reforça a necessidade de vacinação nas áreas de risco. As informações são da Folha.

“É esperado que casos adicionais serão detectados em outros Estados do Brasil considerando-se o movimento interno de pessoas e macacos infectados e o baixo nível de cobertura vacinal em áreas que antes não eram consideradas de risco para transmissão de febre amarela”, diz o informe da organização.

O vírus da febre amarela é transmitido no Brasil por mosquitos silvestres, que circulam apenas em regiões de mata. Desde 1942 hão há registro de transmissão pelo mosquito Aedes aegypti, o inseto vetor de dengue e zika que circula nas cidades.

A entidade internacional afirma que não há evidências de que isso esteja ocorrendo, mas declara que “o risco de transmissão urbana de febre amarela não pode ser excluído”. Isso pode acontecer, diz o texto, se pessoas infectadas se deslocarem para áreas onde o mosquito circula, dentro ou fora do Brasil.

Para a organização, o aumento dos casos ao longo do mês, a confirmação de pacientes em outros Estados e a ocorrência de mortes de macacos ressaltam a propagação geográfica do vírus.

Até esta sexta, o país registrou 101 casos confirmados, dos quais 97 em Minas Gerais, 3 em São Paulo e um no Espírito Santo. Há ainda suspeitas na Bahia, Goiás e Mato Grosso do Sul.

O informe da OMS segue orientação anterior do governo brasileiro e amplia a área de recomendação de vacina contra o vírus. O novo mapa inclui o sul da Bahia, o norte do Rio de Janeiro e todo o território capixaba, com exceção da área urbana de Vitória.

A entidade diz não recomendar, com base nos dados atuais, restrição a viagens ao Brasil. O texto preconiza a vacinação ao menos dez dias antes da ida a áreas afetadas e a adoção de medidas para evitar picadas de mosquito.

MINISTÉRIO
Em nota sobre o comunicado, o ministério afirma que “o risco de reurbanização da febre amarela é muito baixo”.

A pasta cita que, no levantamento nacional de 2016 sobre a infestação de Aedes, 63% dos municípios participantes tiveram índice abaixo de 1%, considerado satisfatório, e 8,6% tiveram indicador acima de 4%, que representa risco de epidemia de dengue.

“Para que se instale um ciclo urbano de transmissão da febre amarela, baseado no histórico das últimas epidemias na África, são necessários índices muito superiores, estimando-se que, naquelas ocasiões, os índices superaram 50% de infestação por Aedes”, diz a pasta.

Presidente da Sociedade Brasileira de Virologia, Mauricio Nogueira diz que não há razão para pânico, mas que, de fato, “o risco de a doença chegar à costa brasileira se mostra cada vez mais real”.

Para ele, o informe da OMS é “mais realista” que o ministério em relação ao risco de transmissão urbana. “Tem um monte de gente doente em cidades que tem o aedes, regiões com baixa cobertura vacinal. Tem que ser investigado a fundo.”

Para Carlos Magno Fortaleza, infectologista da faculdade de medicina da Unesp em Botucatu (SP), a matemática é simples. “Se tiver muita gente com febre amarela e muito Aedes aegypti na mesma área, vai haver a transmissão urbana.”

Nesse cenário, Nogueira diz que o número de vacinas distribuído para a região costeira do país é insuficiente. “É só fazer as contas [de vacinas distribuídas pelo ministério aos Estados de MG, ES e RJ].” Ele ressalta, no entanto, que não é recomendável a vacinação para quem não está ou não vai se dirigir a áreas de risco, como os moradores das capitais do Sudeste.

A vacinação em massa não é recomendada por causa do risco de efeitos colaterais. Fortaleza afirma que, individualmente, o risco é “minúsculo”. “Mas em milhões de pessoas o número de eventos adversos será muito grande.”

Uma das soluções em uma situação de emergência, segundo o infectologista, seria a multiplicação das vacinas, diminuindo a dose de vírus. A adoção desse procedimento foi sugerida pela OMS para lidar com a escassez de vacinas durante a última crise da doença no continente africano, em 2016, como maneira de conter o surto.

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