Alvo da Lava Jato e de 11 inquéritos no Supremo, o presidente do Senado cria um oportuno clima ruim com o Judiciário e arrasta o Planalto
BRUNO BOGHOSSIAN
Na tarde da terça-feira, dia 25 de outubro, o presidente do Senado,Renan Calheiros (PMDB-AL), reuniu em seu gabinete os dois vice-presidentes da Casa, Romero Jucá, também do PMDB, e Jorge Viana, do PT. O tema da conversa eram as reações à operação da Polícia Federal que, dias antes, entrara no Congresso para apurar tentativas de obstruir investigações sobre senadores enrolados na Operação Lava Jato. Participava também desse encontro de cúpula um elemento estranho a reuniões desse tipo, o policial legislativo Antônio Tavares dos Santos Neto, preso e libertado na ação da PF, suspeito de destruir escutas telefônicas e ambientais. Naquela manhã, Tavares apresentara ao Supremo Tribunal Federal uma reclamação, na qual pedia a imediata suspensão do inquérito sob o argumento de que a Justiça de primeira instância não era competente para autorizar a ação. Foi esse servidor sem foro privilegiado o pivô da ofensiva que Renan, como porta-voz de boa parte da classe política, colocava em marcha para erguer barricadas contra os capítulos vindouros e potencialmente devastadores da Lava Jato.
O presidente do Senado, Renan Calheiros. Sua animosidade em relação à Lava Jato lembra Eduardo Cunha(Foto: Pedro Ladeira/Folhapress)
Tavares – ou melhor, Renan – conseguiu o que pedira dois dias depois, quando o ministro Teori Zavascki mandou congelar a Operação Métis para que o Supremo pudesse analisar se o juizVallisney de Souza Oliveira poderia ou não ter autorizado a entrada da Polícia Federal no Senado. A vitória, entretanto, era simbólica. Foi favorável à encenação de que havia uma “crise institucional”, uma invenção de Renan e seus aliados com o objetivo de impor freios e constrangimentos à Justiça. Quando fez o primeiro grande movimento de contra-ataque, ao convocar uma entrevista coletiva na segunda-feira para atacar a Operação Métis, Renan centrou fogo no juiz Vallisney. “Um juizeco de primeira instância não pode, a qualquer momento, atentar contra um Poder”, disse. O recado, porém, era mais abrangente: se algum magistrado, especialmente na primeira instância (e isso, logo, inclui o juiz Sergio Moro), se arvorasse a cometer excessos contra os poderosos da República, seria retaliado. MAIS
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