Karina Gomes*Ueslei Marcelino/Reuters
Avanço do zika leva muitas brasileiras a optarem pelo aborto mesmo sem saber se a criança terá alguma deficiência. Críticos falam em eugenia, mas especialista defende direito à interrupção da gravidez.
Joselma não sabe como agir. Desde outubro do ano passado, teve duas infecções pelo vírus zika. A última foi em dezembro, quando já estava à espera do quarto filho. "Estou muito atordoada. O bebê de uma vizinha acabou de nascer com microcefalia, e tem sido muito difícil para ela."
Em Mutirão do Serrotão, um dos bairros mais pobres de Campina Grande, no interior da Paraíba, outras mães optaram pelo aborto.
Quando soube que eu estava grávida, uma moça que mora há quatro quadras da minha casa me contou que decidiu interromper a gravidez de três meses depois de ter pego o zika. Ela não sabia se o bebê tinha ou não microcefalia. Na dúvida, optou por abortar
Joselma, grávida infectada por zika na Paraíba
Apesar de não ter planejado a gravidez, a recepcionista de 23 anos decidiu ter o bebê. "Na minha família, ninguém tem problema de saúde. Não somos muito unidos, e para eu lidar sozinha acho que vai ser muito difícil. Eu já chorei...". E chora de novo durante a entrevista. "Já me falaram, 'porque você não tira o bebê?'. Disse que não porque é uma vida e, mais pra frente, eu posso me arrepender. Já até me trouxeram o remédio abortivo. Eu não tomei e não vou tomar. Eu e meu marido já tomamos uma decisão. É nosso, foi Deus quem deu, então é para gente cuidar."
O medo de ter um bebê com microcefalia tem levado gestantes a interromper a gravidez mesmo sem a confirmação de que o feto tem a malformação craniana e levantado o debate sobre a descriminalização do aborto no Brasil.
Como o procedimento é proibido, exceto em casos de estupro, risco à vida da mãe e anencefalia do feto, as opiniões estão divididas. Enquanto um grupo de ativistas e intelectuais prepara uma ação pedindo ao Supremo Tribunal Federal (STF) a autorização do aborto em casos de microcefalia, pais que têm bebês com a síndrome fazem campanhas nas redes sociais pelo direito de crianças com deficiência terem a chance de nascer. http://noticias.bol.uol.com.br/ultimas-noticias/ciencia/2016/02/03/microcefalia-cria-dilema-para-mulheres-brasileiras-abortar-ou-nao.htm
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