> TABOCAS NOTICIAS : Medicamento para teste de gravidez teria provocado malformação em bebês?

quinta-feira, 11 de fevereiro de 2016

Medicamento para teste de gravidez teria provocado malformação em bebês?

Rafael Fernandes - Primodos, um teste de gravidez hormonal oral, foi introduzido na Grã-Bretanha no fim dos anos 50. Uma década mais tarde, alguns pesquisadores ligaram Primodos a defeitos de nascença.

Em 1967, Isabel Gal, uma pediatra do Hospital infantil Queen Mary, em Surrey, Inglaterra, foi a primeira a publicar um artigo sugerindo uma ligação entre o Primodos e defeitos de nascimento. Vários outros estudos posteriores apontaram ligações entre os testes hormonais da gravidez (EAPs) e defeitos de nascimento, incluindo problemas nos membros, face, tubo neural e coração. Outros estudos não encontraram associação.

O Primodos continuou a ser usado no Reino Unido até 1978. Quando a droga foi retirada do mercado e sumiu das prateleiras, por razões comerciais, após a chegada de testes de gravidez que utilizavam urina.

Schering, a empresa alemã que fez Primodos e a Bayer – que agora possui Schering – continuam a negar qualquer ligação entre as deformidades nas crianças e a droga.

A filha de Wilma Ord Kirsteen nasceu surda e com paralisia cerebral. Foto: Reprodução / Mirror

Como Primodos funciona?
O Primodos tem dois ingredientes ativos: noretisterona – progesterona artificial – e etinilestradiol – estrogênio artificial.

Se uma mulher quisesse saber se estava grávida, ela tomaria as pílulas Primodos. Se a mulher menstruasse, ela não estava grávida. Caso contrário, a paciente estaria grávida.

Embora o Primodos não esteja mais disponível, o principal ingrediente da droga, noretisterona, ainda é utilizado (mesmo que em doses menores) para tratar uma variedade de problemas de saúde, incluindo sangramento anormal do útero, endometriose e amenorreia. Ele também produz o efeito de um contraceptivo de emergência (a pílula do dia seguinte) em combinação com outros hormônios.

Resultados inconclusivos
Um estudo recente dos doentes encontrou uma associação entre o uso de EAPs e problemas no tubo neural, e uma associação muito forte com uma rara anomalia da bexiga. Mas os autores apontam que este tipo raro de defeito não é visto em crianças nascidas de mães que usaram outros tipos de drogas hormonais – incluindo pílulas anticoncepcionais orais que contêm progesterona – durante a gravidez.

Estes estudos usam dados coletados há algumas décadas atrás, quando os métodos de seleção de dados talvez não fossem tão rigorosos quanto hoje. Eles também contam com a memória das mães quanto ao período de sua gravidez quando tomaram a droga.

Outro problema é que o teste de HPT determina se uma mulher está grávida ou não, mas não poderia determinar de quanto tempo ela estava.

Além disso, a evidência experimental um pouco limitada de estudos em animais expostos a Primodos ou a seus componentes ativos também são inconclusivos. Alguns dados mostram efeitos negativos (alguns, fatais) e outros estudos indicam efeito direto, pouco ou nenhum sobre o desenvolvimento embrionário.

Argumentações
O momento da gravidez em que EAPs foram usados é muito variável, dependendo de quando a mulher se deu conta de que ela poderia estar grávida. Se partirmos do princípio de quatro a sete semanas após a concepção, então este é um período de crescimento incrivelmente rápido e formação de órgãos no embrião.

O grau e o tipo de defeito podem ser relacionados com o tempo de exposição interrompendo a formação de órgãos, tal como demonstrado para a talidomida. No entanto, há uma estimativa de 3% de chance de ocorrer uma anomalia sem interferência externa. Logo, é possível que os danos nas pessoas expostas ao Primodos poderiam ser causados por outros fatores.

No entanto, o efeito de hormônios sintéticos no desenvolvimento embrionário ainda não está bem estudada e podem depender do tempo de exposição, bem como a dose.

Desde que o Primodos foi retirado do mercado, não foi publicada muita pesquisa realizada em animais para entender o que a droga pode ou não fazer para o embrião. Muitos estudos foram realizados décadas atrás, quando métodos e ferramentas analíticas não eram tão avançados como são hoje.

Hoje, a noretisterona é usada para controlar uma variedade de condições hormonais, mas não é recomendada durante a gravidez. Há também a especulação de que pode ter sido utilizada para induzir o aborto.

No passado, um inquérito formal
Hoje, o debate sobre se foi ou não o Primodos o responsável pelos defeitos de nascença. E as exigências de um pedido de desculpas e compensação estão cada vez maiores.

Felizmente, as respostas em breve estarão próximas. No início de 2015, Agência Reguladora de Medicamentos e Produtos de Saúde do Reino Unido (MHRA) emitiu um apelo à evidência para qualquer informação considerada relevante sobre a possível associação entre o uso de EAPs orais e efeitos adversos na gravidez ou defeitos de nascença subsequentes. As provas serão analisadas por um grupo independente de peritos, e um painel de inquérito MHRA irá apresentar suas conclusões neste ano. Esperamos que seja determinado, de uma vez por todas, se o Primodos merece ou não ser chamado de “talidomida esquecida”.[ IFLS / Mirror ] [ Foto: Reprodução / Pixabay ]

Nenhum comentário:

Postar um comentário