por Merval Pereira **O Globo
A questão política, mais que a econômica, é a preocupação do novo ministro da Fazenda Joaquim Levy. Na economia, ele sabe o que tem que fazer para recuperar a credibilidade do país junto aos investidores, e disso sua passagem por Davos, no Fórum Econômico Mundial, é exemplo claro.
Já classificado como um típico "Homem de Davos", Levy não poderia estar mais à vontade entre os que pensam como ele. Parecia feliz como pinto no lixo, na definição popular do grande Jamelão sobre como o então presidente americano Bill Clinton se sentiu quando visitou a Mangueira.
Davos é um lugar perfeito para técnicos como ele, que falam a língua ortodoxa dos investidores e praticam tudo o que dizem. Já trabalhou no Fundo Monetário Internacional (FMI), e nada mais natural que tenha recebido elogios da presidente Christine Lagarde.
Levy é um típico "servidor público", dizem os que trabalharam com ele, e a única experiência no mundo privado foi o tempo que passou trabalhando no Bradesco, de onde saiu para assumir a Fazenda depois que o presidente do banco, Luiz Carlos Trabuco, recusou o convite. Já atuara em governo petista, como Secretário do Tesouro na gestão de Antonio Palocci na Fazenda, e era um dos alvos preferidos do PT já naquela altura, no início do primeiro governo Lula.
A diferença é que a política econômica ortodoxa era conduzida por um petista de alta estirpe, e o presidente era Lula, que controlava politicamente o PT e os movimentos sociais. Desta vez, Joaquim Levy é o responsável principal pela condução da economia, decidido a levá-la a caminhos ortodoxos bastante conhecidos. Mas exatamente por esse comportamento previsível sua escolha deveria ter sido negociada, pelo menos na base aliada, para evitar esse tiroteio de que ele tem sido vítima.
Como isso não aconteceu, e nem a presidente Dilma se dignou a tirar uma foto junto com a equipe econômica para explicitar seu aval, Levy vai lidando com as críticas políticas da maneira que sabe, ou seja, desajeitamente. A cada declaração ou entrevista, tem que soltar uma nota explicando melhor o que quis dizer (como no caso da recessão na economia) ou esclarecendo o que o Financial Times distorceu de suas declarações sobre os programas sociais, tema em que ele faz questão de ser cuidadoso pois sabe a importância que tem no projeto petista.
Levy está incomodado com as críticas, particularmente com os ataques do PSDB. Afinal, esses são da sua grei, até poucos dias antes da eleição Levy fazia parte do grupo de assessoria econômica do candidato tucano Aécio Neves e muito provavelmente estaria na equipe de um ministério da Fazenda comandado por Armínio Fraga.
Por isso Joaquim Levy parece decepcionado com a atuação dos tucanos que, ao contrário de quando Lula assumiu em 2003, não parecem dispostos a apoiar as medidas restritivas que o governo tem anunciado. Levy diz que este não ė momento para populismos, pois a situação ė grave.
Quanto aos tiros que vem recebendo da própria base aliada, Levy evita comentários, mas sempre que pode diz que não há alternativa. No ar, a advertência implícita é de que qualquer descuido pode levar o Brasil a ser rebaixado pelas agências de risco. Abril parece ser um mês decisivo para os destinos do país. Os técnicos consideram que, com o fim do período de chuvas, se terá uma ideia clara da situação dos reservatórios e da necessidade ou não de um racionamento, cada dia mais provável.
Mas é em abril também que o novo Congresso estará votando as medidas de contenção lançadas pelo governo como medidas provisórias, depois de ter elegido os novos presidentes da Câmara e do Senado. Na economia e na política, serão dias conturbados.
Joaquim Levy se escora no entendimento que a própria presidente tem de que é preciso mudar o rumo da economia. E lembra que a palavra mudança orientou os debates da campanha presidencial. O que o povo nas ruas pediu, naquele junho histórico de 2013, foi um governo mais eficiente e não um governo maior, assegura Joaquim Levy.
A seu lado, num almoço para investidores promovido pelo banco Itaú, estava o ministro da Fazenda da Colômbia Mauricio Cardenas, com um histórico de crescimento da economia nos últimos anos, e disposto a abrir o mercado para investimentos em infraestrutura no país. Sem mudanças, adverte Joaquim Levy, o país não estará preparado para voltar a ser um dos importantes players no mundo atual, onde vários emergentes disputam os investimentos internacionais.
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