Em sua coluna de hoje em O Globo, com o título Sem golpismos, o jornalista Merval Pereira defende a ideia de que os protestos realizados em diversas cidades do país nas últimas semanas, em defesa do impeachment da presidente Dilma Rousseff, não podem ser considerados como um “golpe”.
“As manifestações a favor do impeachment (...), sejam nas ruas, sejam de políticos oposicionistas ou de meios de comunicação, podem ser precipitadas, inconvenientes politicamente, mas nunca golpistas, como defensores do governo as rotulam na expectativa de reduzir o seu ímpeto”, diz Merval. “(Isso) não tem nada a ver com pedidos de intervenção militar, esses sim vindos de uma minoria golpista.”
Segundo Merval, a defesa do impeachment se justifica por, ao menos, três razões: 1) a campanha de Dilma em 2010, de acordo com informações dadas pelo doleiro Alberto Yousseff, foi financiada por dinheiro do Petrolão; 2) a prestação de contas da campanha deste ano ainda está por ser aprovada e deverá ser analisada no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) pelo ministro Gilmar Mendes; 3) o crime de responsabilidade no qual ela teria por não ter impedido o uso da Petrobras para financiamentos de sua base política, ou por ter compactuado com esse esquema, durante o período em que esteve à frente do ministério de Energia.
Merval lembra que o próprio Lula afirmou que não há golpismo em usar a Constituição para destituir um presidente da República. Num vídeo que se espalhou pela internet, Lula defende essa tese após o impeachment de Collor, liderado na ocasião pelo PT. “Foi uma coisa importante o povo brasileiro, pela primeira vez na América Latina, dar a demonstração de que é possível o mesmo povo que elege um político destituir esse político. Eu peço a Deus que nunca mais o povo brasileiro esqueça essa lição”, afirma Lula no vídeo (assista ao vídeo abaixo).
No final de semana, durante reunião do G-20 na Austrália, a própria Dilma disse em entrevista não ter “nada contra, nem a favor” das manifestações em defesa do impeachment. "O Brasil tem espaço para a manifestação que for, mesmo uma que signifique a volta do golpe, porque somos hoje de fato um país democrático", afirmou Dilma.
"Reconhecer isso é entender que faz parte da nossa história sermos capazes de tolerar inclusive as manifestações mais extremadas. Um país democrático absorve e processa até propostas mais intolerantes. O Brasil tem essa capacidade de absorver e processar." Do Portal Interior da Bahia
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