Alguém já disse e repetiu que o Brasil é um País esquisito. Não me lembro de ter visto, mesmo em lugares exóticos, uma presidente ter sido reeleita e, logo em seguida, dar ao distinto público a extensa sensação de que fora “derrotada” moralmente. É estranho: antes de começar parece que o governo já acabou.
Alguém já ouviu dizer que o mandatário de uma Nação tenha passado por dificuldades para encontrar um Ministro da Economia, o cargo mais cobiçado dos cobiçados cargos de um País? Só no Brasil.
No fim, Joaquim Levy e Nelson Barbosa aceitaram comandar a economia, deixando claro – pelo histórico de ambos - o tamanho do arrocho que vem por aí. Vamos sofrer.
Geralmente, em lugares normais, a reeleição é a consagração de uma administração. Aqui, não. Aqui a recondução de um presidente ao poder parece ter sido uma espécie de elogio ao fracasso.
É quase surreal: a oposição, diante desse quadro, está animada, considerando-se vencedora, feliz da vida por ter perdido a disputa. Aécio está triunfante. FHC está como pinto no lixo.
Quem arranca os cabelos é o poder incumbente. Reparem a cara dos vitoriosos: olheiras fundas, semblantes tensos, gestos aflitos. Lula submergiu. Dilma finge agora que é humilde. Mercadante parece um professor de cursinho tentando dominar uma caótica sala de aula.
Para piorar o quadro, nem bem fecharam a contagem dos votos, o Governo começou a adotar as famosas “medidas impopulares”, as quais jurou milhares de vezes que o adversário faria assim que pusesse os pés no Palácio do Planalto.
Depois de 26 de outubro, o calendário gregoriano se transformou em máquina de moer carne. A cada dia, o escândalo da Petrobras destrói um pedaço do Brasil. A prisão de empreiteiros e lobistas (depois virão os políticos) agita o País além dos limites históricos imaginados. As propinas para furar poços e assentar simples paralelepípedos já ultrapassam PIBs Moçambicanos.
Na minha modesta análise, o Juiz Sérgio Moro está se inspirando naquela frase de filmes policiais americanos: se querem pegar os criminosos sigam o dinheiro. E se o roteiro for previsível, como parece ser, todos sabem onde esta história vai dar: em Lula e Dilma.
Por enquanto estamos assistindo ao trailer. Quando o filme entrar mesmo em cartaz será complicado: estamos apenas no limiar da confluência de uma crise econômica, moral e institucional como nunca vista antes.
E como fica Mato Grosso do Sul diante deste cenário?. Como somos basicamente produtores de commodities e nosso PIB está lastreado em serviços e consumo, o Governo terá que administrar as contas em regime de escassez. Nossos investimentos serão minguados. Obras poderão parar. Promessas de campanha terão que ser adiadas - e a gestão interna terá que passar por outros filtros para superar vícios incrustados nos últimos anos. Será trabalho para profissionais. Por enquanto acredito que Azambuja dará conta do recado. Mesmo assim, não custa rezar.
Esclarecer é preciso.
No jornalismo, entre o tempo do texto e o tempo da reflexão o espaço é quase nulo. Na semana passada, escrevi um breve comentário sobre a morte de Manoel de Barros. Inadvertidamente, a nota feriu dois amigos queridos: Abílio e Carolina de Barros. Particularmente, pedi-lhes escusas. Elas foram aceitas. Mas não posso deixar de passar a oportunidade de registrar o meu apreço pessoal por Manoel quando ele era vivo, reiterando, contudo, que não gostava de sua poesia. Isso não é pecado, apesar de que para muita gente achar que essa opinião constitui um crime.
Manoel é um mito. Sua obra será eterna. Ele será sempre celebrado por gente poderosa intelectualmente. Sou peixe pequeno. Haverá sucessivas reedições de sua obra, livros de ensaio monumentais e, possivelmente, biografias. Ele merece todas as homenagens. O que me aborrece são os “abutres da fama alheia”, gente que tenta se aproveitar de uma onda para se dar bem. Prefiro não citar nomes. Basta ler na imprensa.
Os dois únicos livros de Manoel que aprecio são “Compêndio para uso dos pássaros” e “ Arranjos para assobio” . Os demais – mesmo reconhecendo a existência de poemas soberbos ao longo das obras – misturam filosofia barata com autoajuda para ambientalista de boutique. Mané não tem culpa pelo julgamento que faço de sua obra; sou assim mesmo: amargo, intransigente e inapropriado para seguir a manada. Que os céus celebrem a chegada do poeta.
(*Dante Filho é jornalista, escritor e atualmente atua como assessor do senador Ruben Figueiró PSDB-MS)
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