Morar com mucuras não é mainstream. Mas o que parece não estar nos planos de muita gente virou rotina na casa do jornalista Maurício De Lara, morador da Área de Proteção Ambiental (APA) Raimundo Irineu Serra, na parte alta da cidade.
Tudo começou quando o cachorro do vizinho matou uma mucura que estava com filhotes. Ao ver a cena dos sete filhos tentando mamar no cadáver, De Lara resolveu adotá-los. Com a fuga de dois e a morte de outros dois filhotes, ele redobrou os cuidados e passou a criar os três restantes dentro de casa. O jornalista Garante que a convivência dos animais – batizados como Pinça, Odara e Faísca – com a esposa e três filhos é harmônica, tanto que ele vai domesticar duas delas.
“Nunca vi isso, mas com o tempo, ocorreu uma ligação emocional”, relata.
Emocional mesmo. Jornalista e designe gráfico, De Lara recorreu ao google para aprender técnicas de criação do mamífero marsupial que é bastante conhecido na região amazônica, mas que recebe outros nomes na América Latina como sarigué, saruê ou sariqueia, da Bahia e Pernambuco, e de raposa no Mato Grosso ou ainda, como taibu, tacaca, saurê ou ticaca no Paraná, São Paulo e Minas Gerais.
Mas além de pesquisar a alimentação adequada, o jornalista estudou sobre as doenças e problemas sanitários que podem ser transmitidos pelas mucuras (uma delas a doença de Chagas) e ainda, o treinamento para readequação do animal com a mata.
“Hoje eu já estou colocando elas em árvores e aos poucos os bichos estão se readaptando. A minha intenção é devolvê-las ao seu habitat natural. Odara deve ser solta daqui uns meses”, acrescentou.
O lado emocional vai falar alto, De Lara pretende domesticar duas mucuras, as mais dependentes, segundo ele, que apresentaram dificuldades de andar no meio do mato e que criaram manias de animais domésticos.
“Pinça e Faísca querem comidinha, carinho e ficar no bem bom”, revela.
“No bem bom” é dormir no quarto do casal, com direito a ventilador e gaiola, pratos especiais como frango fatiado, insetos, restos de frutas, banana e até polpa de tomate. Natural de São José do Rio Preto, De Lara argumenta que no sul do país é comum os animais procurarem a cidade para sobreviver por causa da destruição da fauna e da flora.“Vivo em uma área de proteção ambiental, e neste caso a questão foi de garantir a sobrevivência dos filhotes. Não era conveniente eu desprezá-los ou entregá-los à própria sorte. Estou fazendo um bem à natureza”, destacou.
O caso que até então vinha sendo guardado em segredo foi revelado pelo Cineasta Lelande Holanda, amigo do jornalista. As primeiras fotos do animal domesticado foram postadas em seu facebook. Ontem, De Lara aceitou detalhar o caso de amor com as mucuras à nossa reportagem e pousou para foto ao lado do amigo cineasta que fez até imagens da curiosa história.
A mucurá é um gambá, De Lara garante que na fase adulta se os animais desenvolverem um cheiro desagradável vai ser construído um viveiro fora de casa.
A área Raimundo Irineu Serra é uma Unidade de Conservação, enquadrada na categoria de APA (Área de Proteção Ambiental) localizada no município de Rio Branco, submetida a regime especial de gestão ambiental, com área aproximadamente de 908,7420 hectares.
A Unidade de Conservação foi criada com a assinatura do Decreto Municipal, de nº 500, datado em 07 de junho de 2005, por solicitação da comunidade. Um dos objetivos da conservação foi de proteger e resguardar as tradições culturais do local, onde nasceu a Doutrina do Santo Daime, recebida e fundada pelo Maranhense Raimundo Irineu Serra.
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