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sexta-feira, 20 de junho de 2014

ITABUNA-BA: Vereador nega interesse político no "Socorrinho"

Por Celina Santos / http://www.diariobahia.com.br
Numa eventual chamada pública, o nome Valter Oliveira de Matos até passaria despercebido. Mas se falar "Socorrinho", certamente muitos saberão de quem se trata. O vereador itabunense, eleito na segunda candidatura com mais de 1.327 votos, vem do bairro Maria Pinheiro e tornou-se famoso por transportar pessoas para hospitais em momentos de emergência. Aos 47 anos, separado e pai de quatro filhos, ele tem o perfil do líder solidário. E garante que a assistência prestada a moradores de Itabuna e região não tem interesses políticos.

Como avalia esse primeiro ano e meio de mandato?
Está sendo bom entre aspas, porque a Saúde complicou um pouco. Tenho o desejo de fazer mais pelas pessoas, a demanda é muito grande. Eu sempre agi mais pelo coração, deixando a razão. E com o coração a gente se machuca, quer fazer mais pelas pessoas e não consegue. Outro grande problema é fazer o eleitorado entender que o vereador tem as dificuldades. Ainda existe o eleitor que só pensa que o vereador é para dar dinheiro. Dificilmente, chega um morador pra dizer que tem uma rua precisando de encascalhamento, é mais dinheiro. Atendo cerca de 40 pessoas no meu gabinete por dia. Não é ruindade, eu gostaria de poder servir [a todos].
Meses atrás, uma colega sua revelou que não iria mais se candidatar a vereadora, dizendo-se frustrada por não poder atender a todos os pedidos. O senhor compartilha do mesmo sentimento?
Se continuar como hoje, eu não tentarei mais não. Se as coisas melhorarem e a gente puder atender um pouco da expectativa do povo, dá um oxigênio e de repente você pode sair. Hoje eu diria: se a eleição fosse agora, eu não seria candidato. Mas posso até sair sim. Outra coisa: com saúde, Socorrinho avança. Eu sou batalhador, eu quero ir, luto, busco, acordo duas da manhã... Quando você está doente, com pico de pressão, você recua. Eu tenho me afastado um pouco do povão, até da própria comunidade, por orientação médica.
Hoje o senhor está no PROS, mas se elegeu pelo PTN, um partido de oposição ao prefeito Claudevane Leite. Continua na oposição?
Eu tenho buscado ajudar o governo; não faço oposição de xingar, menosprezar. Tenho uma posição ética: o que for bom para Itabuna estarei aprovando.
O que considera que foi a melhor realização do governo Vane até hoje?
Primeiro, uma grande vantagem pra Itabuna é estar em mãos de uma pessoa honesta, direita. Em termos de realizações, Vane está atingindo muitos bairros com terraplanagem e pavimentação; a compra de ambulâncias para atender aos distritos também é muito positiva, porque a área de Saúde precisa de ajuda mesmo.
Ao contrário, o que foi pior até aqui?
O fracasso está na Saúde, ela precisa ser levada mais a sério. Esquecer as siglas partidárias, questões políticas, acertar num secretário de Saúde que tenha vontade, um cara inteligente, capaz de resolver o problema de Itabuna. Porque a Saúde está um caos.
O senhor continua levando pessoas aos hospitais em sua "ambulância"?
As pessoas me telefonam de qualquer parte de Itabuna ou até de outras cidades vizinhas. Eu não atendo o eleitor propriamente, eu atendo o povo. Se precisar, eu não escolho se votou em mim, se é de outra cidade. Se eu sou requisitado e vejo a necessidade, eu vou servir.
O senhor mesmo vai dirigindo...
Sim. Pego a pessoa, levo pro hospital, faço acompanhamento, vou visitar, levo uma fruta, é diferente a minha política. Faço isso há 22 anos. Começou com um Fusquinha, o 'Socorrinho'. Depois de quatro meses de mandato, eu comprei uma Doblô com ar condicionado, [balão de] oxigênio, tem cilindro, sirene, só a maca dela foi dois mil e poucos reais... E o Fusquinha eu estou ajeitando pra voltar. Pela manhã eu não estou na Câmara e estou com a ambulância nos hospitais; as sessões acontecem de segunda a quarta – então, de quinta a domingo, também estou nos hospitais.
Se só foi candidato duas vezes e faz esse trabalho há mais de 20 anos, não tem apenas uma intenção política...
Te juro que não.
Então, o que lhe motivou a oferecer o "Socorrinho" à comunidade?
Ajudar o próximo. É tanto que eu coloquei na ambulância: 'Fazer o bem faz bem'. Eu me sinto bem em fazer o bem e as pessoas às vezes têm nos confundido. Escrevem a nossa história diferente; o que eu venho sofrendo é isso. A política tem um lado podre, tem hora que dá nojo.
Podemos dizer que o trabalho com a ambulância lhe tornou conhecido e encorajou também a entrar na política?
Foi pela necessidade. Veja bem, batiam na minha porta mulheres para ter bebê. Eu não tinha carro nenhum e ficava no telefone ligando. Nesse tempo, a polícia às vezes vinha e levava, às vezes eu chamava os Bombeiros e dizia: 'Meu Deus! Tenho que comprar um carrinho pra servir ao povo'. Depois, fui presidente de bairro. Tenho 38 afilhados em Itabuna, de mulheres que eu levo pra ganhar o bebê e me dão o filho pra batizar. Aí depois eu comprei o Fusquinha, que levou o nome de 'Socorrinho', porque não é uma ambulância.
Como o senhor bancava esse trabalho, já que era repositor de supermercado e não tinha um salário tão alto?
Os amigos, a comunidade, pessoas boas, solidárias. Eu fazia o cara ruim ficar bom. Chegava num barzinho onde tinha muita cerveja nas mesas e falava: 'Por favor, vocês vão tomar 20 cervejas, tomem 15. Deixa o dinheiro de cinco aí, pra eu botar gasolina no carro'. Eles faziam a vaquinha assim.
O senhor hoje conta com uma equipe para acompanhar os pacientes no caminho até o hospital?
Não tenho, mas estou buscando. O mais difícil era conseguir a ambulância e isso eu já consegui. Eu precisaria de um motorista pra ficar à disposição da ambulância e de uma técnica de enfermagem. Até comentei com o prefeito sobre essa possibilidade e ele ficou de ver. Não seria uma ajuda pra mim, mas pro povo.
Considera que o 'Socorrinho' é uma arma infalível na política?
Não vejo assim não. Eu acho que nasce ali uma amizade forte. É tanto que, quando estou fazendo esse trabalho, me sinto bem e evito falar de política. Eu não peço a pessoas de outras cidades pra transferir título, porque acho uma violência.
Como esse é um ano eleitoral, deve ter muitos candidatos a deputado querendo seu apoio. O senhor está disposto a abraçar alguma campanha?
Ainda não defini quem, mas tenho que abraçar alguém, contando que venha e ajude.
Dará apoio apenas a candidatos do Pros ou de qualquer outro partido?
Qualquer um. Porque eu tenho vontade de ampliar o trabalho. Outra coisa que eu tenho vontade de comprar é um ônibus. Quando morre alguém em Itabuna, ligam pra mim: 'Socorrinho, eu estou precisando de um ônibus pra um enterro'. Eu fico pedindo em prefeitura, pedindo a um e a outro. É terrível! Às vezes, o carro não vai, chega atrasado e o povo fica zangado.
Que outras bandeiras o senhor levanta na Câmara?
Saúde e o Social pra mim são fundamentais. Ajudar o próximo; você só se torna solidário fazendo o social, trabalhando para as pessoas, se doando.

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