VENDENDO MILAGRES
Governo angolano diz que essas igrejas exploram a fragilidade do povo vendendo milagres, mas mantém a autorização de funcionamento da Igreja Universal, 17 de setembro, 2013
O governo de Angola decidiu proibir a atuação da maioria das igrejas evangélicas brasileiras no país. Segundo o governo essas igrejas “praticam propaganda enganosa e se aproveitam da fragilidade do povo angolano”. “O que mais existe aqui em Angola são igrejas de origem brasileira, e isso é um problema, elas brincam com as fragilidades do povo angolano e fazem propaganda enganosa”, disse Rui Falcão, porta-voz do partido Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA).
Segundo o governo, cerca de 15% da população angolana é evangélica, religião que tem crescido nos últimos anos. Em 31 de dezembro do ano passado, 16 pessoas morreram por asfixia e esmagamento durante um culto realizado pela Igreja Universal do Reino de Deus (IURD) em um estádio na capital Luanda. O culto reuniu 150 mil pessoas, ultrapassando a capacidade de lotação do estádio. Com o tema “O dia do fim”, o culto convocou fiéis a “um fim a todos os problemas que estão na sua vida: doença, miséria, desemprego, feitiçaria, inveja, problemas na família, separação, dívidas”.
Em fevereiro, uma investigação do governo culminou no fechamento da IURD e das igrejas Mundial do Poder de Deus, Mundial Renovada e Igreja Evangélica Pentecostal Nova Jerusalém. Em março deste ano, a IURD conseguiu autorização do governo para voltar a funcionar.
Outras igrejas também buscam a autorização de funcionamento, mas, segundo Falcão, dificilmente conseguirão. “Essas igrejas não obterão reconhecimento do Estado, principalmente as que são dissidências, e vão continuar impedidas de funcionar no país. Elas são apenas um negócio”, disse o porta-voz.
Para Falcão, a principal preocupação do governo é a exploração praticada pelas igrejas evangélicas brasileiras. “Elas ficam a enganar as pessoas, é um negócio, isto está mais do que óbvio, ficam a vender milagres”, disse Falcão.
Monopólio garantido
Críticos da proibição acusam o governo de beneficiar a IURD, contribuindo para a mesma exploração que diz combater. O governo do presidente José Eduardo dos Santos é visto como “amigo próximo” da IURD e a TV Record (dona da IURD) tem muita influência em Angola. O banimento das outras igrejas evangélicas seria uma forma de assegurar o monopólio da IURD no país. “Angola é terreno fértil para a Universal, que tem lá TV, jornal, templos e conexões políticas, e por isso deve ter conseguido essa ‘reserva de mercado’”, diz Ricardo Mariano, sociólogo da PUC.
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