Em Washington, ministro José Eduardo Cardozo, ouviu que 'governo americano não aceitaria fazer um acordo nesses termos com nenhum país'.
Os EUA rejeitaram proposta do Brasil de firmar um acordo de cooperação para regular o acesso recíproco a dados telefônicos e de internet, apresentada em resposta às revelações de Edward Snowden de que o serviço de inteligência de Washington espionou cidadãos brasileiros.
"A resposta foi que o governo americano não aceitaria fazer um acordo nesses termos com nenhum país do mundo", relatou ontem o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, em entrevista em Washington. "Nesse ponto, foram peremptórios."
O ministro discutiu o assunto nos dois últimos dias em reuniões com o vice-presidente, Joe Biden, o secretário de Justiça, Eric Holder, e a assistente do presidente para Segurança Doméstica e Contraterrorismo, Lisa Monaco. Segundo ele, os americanos não negaram que tenham realizado atos de espionagem no Brasil. A rejeição da proposta de acordo foi justificada sob o argumento de que as ações do país estão amparadas pela legislação doméstica e os EUA têm um papel global a cumprir, "de proteger o mundo", disse Cardozo. Mas as autoridades americanas se declararam "abertas ao diálogo" e à discussão de pontos da sugestão apresentada pelo Brasil. "Estamos dispostos a dialogar, mas seria muito importante que o diálogo não fosse meramente retórico, que tivesse resultados concretos", ponderou o ministro.
Inteligência. Ex-agente da Agência Nacional de Segurança americana (NSA, na sigla em inglês), Snowden ficou famoso em junho, ao ser identificado como fonte de reportagens que revelavam detalhes sobre a maneira como o organismo de vigilância que ele integrou espionava na internet.
As autoridades americanas cancelaram o passaporte de Snowden enquanto ele estava em Hong Kong, para onde tinha fugido após revelar as informações para a imprensa. Mesmo assim, o americano conseguiu voar para Moscou, onde chegou em 23 de junho e se refugiou na área internacional do Aeroporto de Domodedovo. O americano ficou no terminal até o dia 1.º de agosto, quando conseguiu um asilo temporário do governo russo e entrou oficialmente no país.
Em julho, por meio do colunista Glenn Greenwald, do jornal britânico The Guardian, o diário brasileiro O Globo publicou informações passadas por Snowden que indicavam que o governo americano espionou empresas e cidadãos brasileiros, além de outros países latino-americanos.
*Cláudia Trevisan, correspondente / WASHINGTON - O Estado de São Paulo
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