Diferente de FHC, que teria, segundo a imprensa, dito que nosso país precisa de “igualdade, pelo menos perante a lei, igualdade formal ainda que seja”, penso que nem essa basta mais. Precisamos de mais igualdade substantiva, material, tangível, sensível aos olhos do cidadão comum, esse eterno escravo da notícia enganosa, do raciocínio tortuoso, da falácia e das revelações de escândalos sem conta e sem fim, que só se tornam mais presentes em época de eleições, mas que permeiam o cotidiano das práticas das autoridades em todos os níveis.
O caso mais recente é o da Siemens, que teria participado de licitações fraudadas no Estado de São Paulo, desde os tempos de Mário Covas, e que, agora já se sabe, é useira e vezeira em práticas de arreglo mundo afora. Meu Deus! E seria essa a única vez em que algo assim é “descoberto” no Brasil? Esqueceram-se todos, por ventura, do caso Gtech – uma das investigadas no primeiro governo Lula, na famosa CPI dos Bingos ou CPI do Fim do Mundo?! Ao que eu saiba, nada se passou, depois do escândalo.
Seu nome veio à baila, novamente, quando, há pouco, vieram a público as travessuras e as relações perigosas de Carlinhos Cachoeira. A empresa teria sido vendida a uma poderosa rede lotérica italiana. E ponto final. Em que deu tudo aquilo? – Nada, absolutamente nada, exceto talvez, quem sabe, um desses volumosos processos do TCU em que todos são responsabilizados por fraudes gigantescas e jamais são pegos pelas malhas da Justiça.
TERCEIRIZAÇÕES…
O Tribunal Superior do Trabalho revela a tristemente vergonhosa situação das empresas de terceirização no Brasil, as campeãs de reclamações trabalhistas, em listagem apresentada na hora em que tentam votar na Câmara dos Deputados o projeto sobre terceirização de mão de obra. Ora, quando estive por curtos sete meses na Secretaria Executiva do Ministério do Trabalho e Emprego, do qual fui defenestrada sem a menor explicação, em 2003, lá dentro mandei fazer auditorias sobre as prestadoras de serviço do próprio ministério. O que foi feito dessas auditorias da CGU, que deixei concluídas, mas que, invariavelmente, tropeçavam ao fim e ao cabo em testas de ferro de altos escalões da República?
Em polêmica com o novo ministro Luís Roberto Barroso, o presidente do STF, Joaquim Barbosa, agora na mira de todos porque seu nome andou circulando para a presidente da República, contraditou a decisão de deixar a cassação de mandatos dos parlamentares condenados criminalmente, indagando: se a Justiça decreta, nesses casos, a perda de cargo público, por que não fazê-lo no caso dos parlamentares? Diria o Conselheiro Acácio: em respeito à democracia formal, que diferencia o servidor daqueles que são eleitos em respeito à soberania da vontade popular. Soberania essa, todos sabemos, fruto de eleições fraudadas pelo peso do poder econômico.
Penso, diante disso, que está mesmo faltando boa dose de pudor entre os nada penitentes devotos da republicana igualdade de todos perante a lei. (transcrito de O Tempo)
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