A primeira vez em que Ulysses Guimarães deixou de ser presidente da República não foi em 1974, quando o MDB o lançou de anticandidato contra o general Geisel, com Barbosa Lima na vice.
Quem contou foi ele, numa inesquecível conversa com meu colega da “Folha”, o saudoso jornalista–astrólogo Getulio Bittencourt, que reproduzi na integra em meu livro “Folclore Político – 1950 Historias da Política Brasileira – 5 Volumes em 1” – Geração Editorial – SP).
MORENO
Relembro o múltiplo Getulio ao ler “A Historia de Mora”, talentosa sacada do Jorge Bastos Moreno, de “O Globo”, que presta ao pais o enorme serviço de refazer a quase sagrada saga de Ulysses, através das hipotéticas relembranças da doce Dona Mora, sobre uma rígida fidelidade aos fatos.
Fez bem nosso unanime Moreno (única unanimidade de inteligência e afetos que conheço nas revoltas redações da imprensa brasileira) em lembrar ao pais que daqui a três anos (2016) será o centenário de Ulysses. (Nasceu em 16 de outubro de 1916 e morreu em 12 de outubro de 1992, em um infinito mergulho de helicóptero nos mares encapelados de Angra dos Reis, com Dona Mora e os amigos Severo Gomes e dona Henriqueta).
MAZZILI
Ulysses contava, em seu gabinete, numa tarde seca de Brasília:
- “Por ingenuidade, deixei de ser presidente da República interinamente. Os cardeais do partido se reuniram em 1955 para ver a preferência da bancada em torno de um nome para a presidência da Câmara. Fui o mais votado e os cardeais se reuniram para sacramentar o meu nome. Como o PSD tinha maioria, o presidente saía dos seus quadros.
- “Aí a bancada paulista do PSD decidiu se reunir também. E me convidaram. Eu sentia que não devia ir, mas fui. E a bancada paulista decidiu que seu candidato seria o Ranieri Mazzilli”.
CARLOS LUZ
- “O Carlos Luz me procurou e disse que, como eu não seria candidato, ele seria – e se tornou presidente da Câmara. Nessa função chegou à Presidência da República interinamente, no meio daquelas crises todas do 11 de Novembro” (quando a UDN e seus militares golpistas tentaram impedir a posse de Juscelino, que havia ganho em 3 de outubro).
“Acho que tudo isso aconteceu também porque evitaram a solução natural, que seria o meu nome” (e não o Carlos Luz, do PSD de Minas, mas totalmente udenista) tanto que no ano seguinte fui o presidente da Câmara. Em política, quando se evita a solução natural só se provoca crise”.
LACERDA
- “O pior momento da minha carreira foi o período em que presidi a Câmara dos Deputados, nos dois primeiros anos do governo Kubitschek”.
- “O Lacerda se exilou no exterior, depois daquelas lutas contra a posse do Juscelino, reações militares e tal. Quando Lacerda voltou, ele pediu a palavra e eu estava na presidência. Garanti a palavra a ele, mas os ânimos estavam exaltados, alguns queriam matá-lo”.
- “ O Lacerda começou a discutir e notei que vinha se aproximando o Molinaro, um parlamentar oficial da Aeronáutica, que esteve no Canal de Suez quando a ONU tinha tropas lá onde causou os maiores problemas”.
- “ O Molinaro estava carregando uma pasta. Eu suspendi a sessão, desci da Mesa, peguei-o pelo braço e o levei ao meu gabinete, onde o desarmei. Havia uma arma na pasta. Depois reabri a sessão e garanti a palavra ao Lacerda”.
COLLOR
Em 1989 Ulysses se achava, e era, o herdeiro da redemocratização. Mas Mario Covas exigia ser candidato. Com Franco Montoro, Fernando Henrique, José Serra, Pimenta da Veiga, José Richa,, racharam o PMDB, fundaram o PSDB, derrotaram Lula e Brizola. E elegeram Collor.
A Presidência não era o destino de Ulysses. Dona Mora não sabia.
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