Em julho deste ano, 19 usinas eólicas construídas na Bahia e no Rio Grande do Norte completaram um ano sem funcionamento, redundando em um prejuízo de R$ 400 milhões aos cofres públicos. Construídas em regiões distantes das linhas de transmissão existentes e sem a construção de novas linhas para atendê-las, tais usinas seguem paradas, consumindo recursos públicos sem gerar um único megawatt para a matriz energética brasileira. A denúncia foi feita por uma reportagem do noticioso Bom Dia Brasil da Rede Globo de Televisão, levada ao ar em 31 de julho (G1, 31/07/2013),
Segundo a reportagem, a Companhia Hidrelétrica do São Francisco (Chesf) deveria ter construído as conexões, mas alegou que não o fez por causa de três fatores. "O processo de licenciamento ambiental, o processo de anuência dos órgãos do patrimônio histórico e hoje uma questão muito grave, a questão fundiária", como explicou o presidente da estatal, João Bosco de Almeida. Na Bahía, são doze parques eólicos estão parados desde julho do ano passado, somando 184 turbinas, em uma área que engloba três municípios no sudoeste do estado. No Rio grande do Norte, outros sete parques encontram-se na mesma situação.
Contudo, a despeito de não estarem conectados ao sistema elétrico, tais usinas conseguiram vender a sua capacidade em leilões de eletricidade já realizados, e estão recebendo normalmente dinheiro das distribuidoras. Segundo Carlos Mathias Becker, diretor-presidente da Renova Energia, que administra os parques eólicos baianos, "nós recebemos a receita, mesmo porque essa receita é usada para pagar o financiamento que contraímos junto ao BNDES. São R$ 15 milhões ao mês".
Os 19 parques eólicos já receberam cerca de R$ 400 milhões durante o primeiro ano de inatividade, um valor que acaba sendo custeado pelo consumidor, já que será incluído como despesa extra no reajuste das tarifas. Entretanto, o número total de eólicas paradas no Nordeste, por falta de linhas de transmissão, seria ainda maior: 28 usinas, com uma capacidade de geração potencial somada de 700 MW (cerne.org.br, 17/06/2013). A única solução apresentada até o momento é a de limitar a participação nos próximos leilões apenas às usinas que se encontrem próximas às subestações de transmissão. Segundo Almeida, "nesse próximo leilão de energia eólica que vamos ter agora, o gerador eólico só pode ofertar energia se existir conexão pronta para que ele conecte os parques eólicos".
Além de representar mais um colossal desperdício de recursos públicos, tanto no financiamento para a construção, como no pagamento de uma energia que não é produzida, a própria interligação de parques eólicos à rede de geração elétrica de base constitui um enorme contrassenso, devido à intermitência de tais fontes, mesmo em áreas de ventos mais regulares, como o Nordeste. Ademais, a alegada competitividade das fontes eólicas só se sustenta com subsídios governamentais - como em todo o mundo -, conta que, de um jeito ou de outro, acaba sendo repassada aos consumidores finais, que já pagam por tarifas que se alinham entre as mais altas do planeta.
Nenhum comentário:
Postar um comentário