As duas publicações que fazem a cabeça dos mercados e influem sobre governos no mundo inteiro acabam de decretar o fim do encantamento com os tais emergentes.
A primeira foi o "Financial Times", com um obituário curto e grosso escrito por Jonathan Wheatley. "Uma desconfortável verdade está se fazendo sentir no mundo dos investidores em mercados emergentes: está morta a história de crescimento do mercado emergente."
A "Economist" é menos dramática, mas não deixa de apontar que chegou ao fim "a dramática primeira fase da era dos mercados emergentes". Por "dramática primeira fase", entenda-se que as economias em desenvolvimento saltaram de representar 38% da produção econômica mundial para 50% na primeira década do novo século.
O Brasil, obviamente, é um dos emergentes que, agora, parecem estar submergindo -- e submergindo mais que seus pares.
Diz a "Economist": "O Brasil correu adiante com a ajuda de um boom' das commodities e do crédito doméstico; sua atual combinação de teimosa inflação e lento crescimento mostra que a velocidade-limite subjacente de sua economia é muito menor do que se pensava."
Para o meu gosto, é uma frase definitiva demais para o médio prazo. Mas, para o biênio 2012/13, é indiscutível. Não é que o Brasil esteja crescendo menos que os demais Brics, as grandes estrelas do mundo emergente até recentemente. Cresceu menos que todos os sul-americanos, que não são propriamente queridinhos dos mercados.
As estatísticas da Cepal, a comissão da ONU para a América Latina, mostram que, em 2012, o Brasil, com seu 0,9%, cresceu mais apenas que o Paraguai, que retrocedeu 1,2%. Neste ano, a previsão da entidade é de novo de penúltima colocação em crescimento, ganhando apenas da conturbada Venezuela.
O Brasil perde, portanto, até de países (Bolívia, Equador e Argentina) cujas políticas econômicas são vistas com misto de desprezo e desconfiança por agentes de mercado.
A morte da "história de crescimento" dos emergentes permite um ajuste de contas com os exageros de avaliação que marcaram seu glorioso reinado de uma década, pouco mais ou menos.
Essa história de que a China ultrapassaria fatalmente os Estados Unidos, por exemplo, já começa a ser reavaliada. De fato, a China explodiu nos últimos 20 anos, mas sua economia, se medida em paridade de poder de compra, é apenas 18% da norte-americana.
Da mesma forma, a reverência aos Brics como novo bloco de poder no planeta omitiu reiteradamente o fato de que o grupo só existe como sigla, não como coletivo que atua em conjunto.
Sem esquecer que a China é estrondosamente mais forte que seus quatro sócios. Para ficar em um só indicador: as reservas internacionais dos Brics são imponentes (US$ 4,6 trilhões), mas três quartos delas (US$ 3,5 trilhões) pertencem a um só país, obviamente a China.
Só espero que não se caia no exagero oposto, de dar os emergentes como inutilidades. Continuarão crescendo, menos, mas crescendo.
* Texto por Clóvis Rossi - crossi@uol.com.br - Na Folha de São Paulo
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