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sábado, 3 de agosto de 2013

Depoimento de uma professora que não podia reprovar maus alunos

Ana Maria de Moraes Sarmento Vellasco

Hoje faz dez anos que me aposentei como professora do serviço público. Muitas imagens maravilhosas passam pela minha mente neste momento, assim como preocupações.

Agradeço ao Destino ter-me oportunizado tantas interações, trocas e alegrias com os meus alunos. Cresci e transformei-me com eles. Centenas de crianças, jovens e adultos tornaram-me melhor, maior em estatura e graça diante do Universo.

Iniciei como professora particular de Inglês e Francês. Em seguida, foram aulas de Ballet em uma Academia em Brasília. Depois, já concursada, ministrei aulas como professora alfabetizadora, no turno intermediário, denominado “turno da fome”, de uma escolinha na periferia do Núcleo Bandeirante, no DF. Em moto contínuo, lecionei Artes Plásticas, Música, Língua Portuguesa, Literatura, Linguagem para Início de Escolarização, Processo de Alfabetização, Ensino e Aprendizagem da Língua Materna, Linguagem: texto e contexto, Teoria e Prática Pedagógica, Sociolinguística Aplicada ao Ensino. Integrei inúmeras bancas de graduação e de pós-graduação, e de concursos públicos. Integrei bancas editoriais de publicações acadêmicas. Foram trinta anos em que me deparei com pessoas de todas as raças, credos e procedência, de nível social e ambições diferentes. A muitos fui esteio, a muitos fui exigente demais, a todos dei o meu melhor.

Ao mesmo tempo em que me aposentava, assumia outros compromissos com a Educação, em muitas frentes de trabalho, tanto na Universidade de Brasília como em outras agências educacionais, até mesmo no Ministério da Educação.

Em três semanas de trabalho no Acre, atualizando professores do Ensino Médio, conheci a realidade educacional do Norte Brasileiro, que me preocupou. O mesmo me ocorreu no Nordeste, na Paraíba.

FINGEM QUE ENSINAM

Retirei-me, decepcionada, das duas instituições de ensino superior religiosas privadas de Brasília pelas quais fui convidada a lecionar. Nas duas, há um acordo tácito: professores fingem que ensinam e alunos fingem que aprendem. Avisaram-me: não se pode reprovar alunos pagantes, tampouco reclamar do atraso na entrada em sala de aula ou da saída antecipada, nem sequer solicitar-lhes trabalhos de pesquisa ou outros fora da sala de aula. Provas? Essa é uma pedagogia que oprime, é ultrapassada. A cultura do “deixa pra lá” prevalece e não existe a preocupação de formar profissionais competentes. O que será desses alunos, com um  diploma na mão? Essa foi a parte triste da minha vida como educadora.

Fui convidada pelo Ibero-Amerikanisches de Berlin, Alemanha, para integrar um time de onze linguistas brasileiros em três colóquios sobre o Português do Brasil. Publiquei vários textos na Alemanha. Publiquei pela Universidade da Pennsylvania, na Philadelphia, EUA, sobre a Educação de Adultos, com base na Sociolinguística, a quatro mãos com a minha queridíssima mestre Stella Maris Bortoni. Publiquei na França e na Inglaterra. Escrevi um livro sobre Turismo, para acompanhar o Projeto de Mestrado Profissional em Turismo da Universidade de Brasília. Com a minha queridíssima mestre Stella Maris Bortoni e minha queridíssima colega Vera Freitas, organizei o livro com que sonhara: O Falar Candango, que reúne trabalhos de pesquisa sobre o falar no Distrito Federal e entorno. Um dos capítulos é da minha autoria. Stella e eu temos pensado em outro livro.

Mesmo residindo no Rio, continuo a trabalhar para um importante Centro da Universidade de Brasília, como consultora pedagógica, para dois institutos estadunidenses, como tradutora e fazendo high copy-desk. Já efetuei trabalhos para a PUC-Rio também. Não consigo parar. As buscas do Conhecimento e de uma Educação de Qualidade viciaram-me.

Aos meus amigos professores, peço-lhes: perseverem, leiam muito, prossigam estudando, atualizem-se constantemente, lutem pela qualidade na Educação. A nós educadores, especialmente, é facultado o “fazer pelo próximo”.

Ser mãe, ser avó e ser profissional da Educação tornaram a minha vida plena de sentido. O sentido da nossa existência é fazer o melhor que pudermos pelo próximo e em prol de uma sociedade igualitária, equânime. http://heliofernandes.com.br/

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