(EFE).- Embora a acusação tenha descartado esta hipótese, a suposta responsabilidade de Lula foi comentada no julgamento por possíveis subornos a deputados e financiamento ilegal de campanhas denunciados em 2005.
O processo tem como réus 38 políticos e empresários, entre os quais estão três ex-ministros - entre eles, José Dirceu, o ex-ministro-chefe da Casa Civil e conhecido durante anos como "braço direito" de Lula.
O escândalo foi denunciado em junho de 2005 pelo ex-deputado Roberto Jefferson, presidente do PTB e hoje incluído entre os acusados, e chegou ao Supremo Tribunal Federal (STF), que desde o dia 2 está agradável ao processo.
A Procuradoria Geral da República (PGR), que atua na acusação, não incluiu Lula entre os acusados pois alegando não ter encontrado indícios de sua participação no que considerou como o "mais atrevido e escandaloso esquema de corrupção e desvio de dinheiro público" ocorrido no país.
No entanto, nesta semana o advogado Luiz Francisco Corrêa, que defende Jefferson no processo, afirmou que Lula "não só sabia, mas ordenou tudo".
Segundo Corrêa, "Não se pode afirmar que o presidente Lula fosse um pateta, um deficiente, que sob suas barbas estivessem acontecendo essas tenebrosas transações".
O advogado se defendeu na própria acusação, a qual sustenta que o "chefe" e "idealizador" de toda a trama era Dirceu, cujo gabinete na época era vizinho do gabinete do presidente.
Corrêa lembrou trechos da acusação lida perante a corte pelo procurador-geral, Roberto Gurgel, que perguntou: "Como se poderia imaginar que tudo isso ocorria dentro do palácio presidencial e que as reuniões da quadrilha aconteciam a poucos metros do gabinete do presidente da República?".
Em sua intenção de envolver o ex-mandatário, o advogado de Jefferson se valeu do que considerou "mais que um indício" e citou o caso do BMG, investigado por dar créditos sem garantias ao PT, que depois supostamente serviram para alimentar a corrupção.
Essas operações estavam limitadas aos bancos públicos, mas após o decreto, o governo "enviou milhões de cartas aos pensionatos" informando que o BMG também era autorizado, o que levou muitos a se mudar desse banco, afirmou o advogado.
"Em dois meses, o BMG entrou no mercado e, em seguida, o PT obteve empréstimos do Rural e do BMG", denunciou o advogado de Jefferson, que considerou "evidente a relação entre esses atos".
Segundo analistas políticos, ao mirar diretamente em Lula, a defesa tentou semear dúvidas sobre a PGR, a fim de desqualificar todo o seu trabalhado acusatório.
O próprio Jefferson, na época em que denunciou o caso, concentrou suas acusações em Dirceu e sempre eximiu Lula de culpa, inclusive quando declarou perante uma comissão parlamentar que averiguava o assunto.
Diante dessa comissão, em uma sessão transmitida pela TV e com o olhar fixo nas câmeras, Jefferson declarou: "Sai daí, 'Zé' (Dirceu). Sai daí logo, antes que você faça réu um homem inocente, o presidente Lula". O "homem forte" de Lula renunciou dois dias depois.
Hoje, Jefferson sustentou que Lula teria ido "preso" se tivesse sido o ex-presidente Fernando Collor de Mello, que quando foi acusado por corrupção perdeu apoio político e renunciou em 1992.
Lula, por sua vez, mantém silêncio. Sempre negou com veemência os subornos a deputados, embora com o tempo tenha aceitado que o PT não havia declarado parte do dinheiro usado em sua campanha e nas de outros candidatos.
Há dez dias, em um ato público, Lula foi consultado sobre o início do processo, mas disse que nem sequer acompanha seu desenvolvimento.
"Tenho mais coisas para fazer", declarou.
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