Malagueta, dedo-de-moça, comari, biquinho, caiena, habanero, tabasco, jalapeño. Não faltam opções de pimentas para temperar e dar sabor aos alimentos. A variedade existente no Brasil e no mundo é ampla, tanto quanto os benefícios que elas podem propiciar ao organismo.
Atreladas a um estilo de vida saudável, essas picantes frutinhas (sim, para a botânica, pimentas são frutas) podem melhorar o humor, ajudar a emagrecer, aumentar a circulação sanguínea e agir como anti-inflamatórios.
Marcio Bontempo, médico homeopata e autor do livro “Pimenta e seus benefícios para a saúde” (Editora Alaúde), explica que os efeitos são resultados da ação da capsaicina e da piperina, agentes ativos, encontrados nos frutos, com comprovada ação vasodilatadora arterial.
As propriedades também aumentam a produção da endorfina, o hormônio do prazer e do bem-estar, e de outras substâncias também ligadas à satisfação, como a serotonina e a dopamina. "Para a mulher, a melhora na irrigação sanguínea e a elevação da serotonina ainda produz um efeito afrodisíaco", afirma.
Controla o peso e é antioxidante
A ação sobre o controle do peso se dá pela aceleração da queima metabólica. A pimenta-caiena é uma das espécies que ganhou popularidade ao ser utilizada com essa finalidade em uma dieta de desintoxicação e emagrecimento adotada por famosos, como Beyoncé, Jared Leto e Rachel McAdams.
Seus impactos sobre o metabolismo foram comprovados em uma pesquisa conduzida na Univesité Laval, do Canadá (Québec). Durante um período, voluntários consumiram uma pequena porção de pimenta-caiena no café da manhã e tiveram o apetite reduzido e a queima de calorias aumentada.
Graças à presença de vitamina C, licopeno e outros pigmentos, as pimentas ainda têm efeito antioxidante. "Juntos, eles promovem uma varredura de radicais livres desencadeadores do processo inflamatório", ressalta.
O engenheiro agrônomo Ademar Menezes Júnior, da Oficina de Ervas, avalia que o potencial fitoterápico do alimento é pouco explorado frente aos seus benefícios para a saúde. “Principalmente nos Estados Unidos, há diversos trabalhos acadêmicos que mostram que o extrato pode ser ingerido na forma de cápsulas e ainda transformado em creme para uso tópico. Em casos de artrite e artrose, por exemplo, causa uma analgesia no local. No couro cabeludo, pode até combater a queda de cabelos”, diz.
Em todas as classes sociais
Estima-se que os brasileiros consumam meio grama por dia de pimenta, a mesma quantidade que os europeus. De acordo com Nelusko Linguanotto Neto, autor do livro “Dicionário Gastronômico: Pimentas com suas Receitas” (Global Editora) e proprietário da Bombay Food Services, os campeões mundiais são os coreanos, com 8 gramas diárias. Na sequência, vêm os tailandeses (5g), seguidos dos indianos (2,5g) e dos mexicanos (2g).
Apesar do baixo índice no país, ele afirma que o quadro está mudando. “Antes restrita aos botecos e às pastelarias, hoje as pimentas são servidas em restaurantes de alta gastronomia. Elas perderam o estigma de alimento das classes menos favorecidas”, diz. Esse fenômeno popularizou espécies originárias na Bacia Amazônica, mas desconhecidas por aqui há até alguns anos, como a jalapeño e a habanero.
Linaguanotto Neto chama atenção para as diferenças regionais e para o fato de que no Norte e no Nordeste, as plantas são utilizadas em abundância. “Em áreas quentes, elas são mais frequentes na culinária porque promovem um equilíbrio entre as temperaturas interna e externa do corpo. Ou seja, diminuem a sensação de calor”, explica.
Cultura nacional
As pimentas são ingredientes fundamentais da culinária brasileira, basta pensar em pratos como a moqueca e o acarajé, que não seriam os mesmos sem a pungência marcante dos condimentos.
Apesar disso, nem todos apreciam essa característica. Para quem não gosta, mas quer se beneficiar das pimentas, basta extrair as sementes. Linguanotto Neto esclarece que o sabor ardido, na verdade, está na placenta que envolve as sementes.
“Ao raspar a parte interna dos frutos, é possível diminuir em até 80% a ardência”, ensina. Algumas propriedades, no entanto, se perderão. “Quais mais fortes, mais potentes são os efeitos na saúde”, ressalta.
Grau de ardência
Em 1912, o químico norte-americano Wilbur L. Scoville classificou o grau de ardência das plantas, dando origem a uma escala que leva o seu nome. As medidas dessa régua se referem à quantidade de vezes que um extrato de pimenta precisa ser diluído em uma solução de água para ser neutralizado. A Jolokia, a mais ardida do mundo, está no topo do ranking, com valor de 1.000.000.
“Mas para facilitar a compreensão do público, foi adotada uma escala de zero a dez, que recentemente foi acrescida de outros valores para dar conta das variedades que apareceram”, explica Linguanotto Neto. No álbum acima, uma lista organizada pelo especialista.
Quem deve evitar
Quem sofre com refluxo, úlceras e gastrites deve evitar o consumo para não agravar o quadro. “É importante ressaltar que não são os agentes da pimenta que fazem mal. Pelo contrário, eles são benéficos e até previnem doenças como gastrite e esofagite. O problema ocorre quando o estômago já está debilitado. Como os frutos estimulam a produção de suco gástrico e, consequentemente, de ácido clorídrico, substância presente no suco, ocorre uma piora nas inflamações”, explica Ricardo Portieri, gastroenterologista do Hospital Bandeirantes.
O alimento também não é o responsável pelo desenvolvimento de hemorroidas, como muitos imaginam. “A doença é causada por outros fatores e as pimentas, assim como no caso das disfunções estomacais, agravam a situação. A ideia de que elas são a causa é um mito”, esclarece.
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