Os enfermeiros que confessaram ter assassinado pelo menos 16 pacientes aproveitavam emergências nos hospitais para obter as drogas que depois usariam para cometer seus crimes, revelaram nesta terça-feira autoridades sanitárias do Uruguai, que intensificaram medidas de controle.
O vice-ministro de Saúde Pública, Leonel Briozzo, explicou em coletiva de imprensa que em todos os centros de saúde do país existem registros e fiscalizações do uso de medicamentos para cada paciente.
Mas "em casos de emergência - bastante comuns em um centro de cuidados intensivos -, como uma parada cardiorrespiratória ou uma grande hemorragia- são estabelecidas medidas imediatas de reanimação e o controle fica de lado, frente à importância de medicar imediatamente para salvar vidas", acrescentou.
"Essas lacunas nas quais a atenção à saúde prevalece sobre o controle (...) eram lacunas que estes criminosos, com a intenção de prejudicar, aproveitavam para se apossarem delas (das drogas), segundo disse o juiz, para guardá-las e utilizá-las depois nos procedimentos de assassinato que cometiam", revelou.
Segundo Briozzo, a fiscalização "em termos genéricos, da medicação dada não falhou. O que falhou de alguma forma foi que havia pessoas que, em vez de estar reanimando gente, estavam especulando como roubar medicamentos para guardá-los e depois causar a morte de outras pessoas", enfatizou.
O Ministério de Saúde Pública (MSP) iniciou nesta terça-feira investigações administrativas nos hospitais onde as mortes ocorreram e está recebendo ajuda de técnicos da Organização Panamericana de Saúde (OPS).
"Ninguém poderia antecipar, do ponto de vista sanitário, uma epidemia criminal", disse em coletiva de imprensa o representante da OPS no Uruguai, Eduardo Levcovitz, que revelou que a experiência mostra que "o assassinato em série nos serviços de saúde não é totalmente incomum".
"A única coisa que podemos concluir é que não há motivos comuns, não há metodologias comuns", assegurou.
Entre as medidas estudadas pelo MSP está a possibilidade de instalar câmeras em alguns locais para registrar os tratamentos recebidos pelos pacientes internados e que funcionarão como "caixas pretas", apenas em caso de ocorrerem mortes duvidosas.
Além disso, apostam no "autocontrole da equipe médica", disse Briozzo, o que implica "mudar a cultura de não denunciar um companheiro".
Isso permitiria "minimizar o risco e, caso algo ocorra, que seja detectado a tempo com o menor dano possível", completou.
A sociedade uruguaia ficou horrorizada com as revelações trazidas à tona pelo caso de dois enfermeiros processados domingo à noite pelo homicídio de pelo menos 16 pacientes, tendo uma enfermeira como cúmplice.
Onze dos homicídios ocorreram em um CTI (Centro de Tratamento Intensivo) neurocirúrgico da Associação Espanhola, uma das maiores clínicas privadas do país em que trabalhavam os três acusados.
Os outros cinco ocorreram em uma unidade de cuidados intermediários (cardiologia) do Hospital Maciel, da rede pública, onde também trabalhava um dos acusados.
Segundo fontes judiciais, um réu assassinava injetando ar por via intravenosa, o que provocava uma embolia pulmonar e parada cardíaca, enquanto o outro injetava anestésicos.
Embora os enfermeiros aparentemente tivessem uma relação de amizade, até agora a Justiça não comprovou se executaram suas vítimas de forma coordenada. Da AFP Paris
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