“Rumo a 2030!”. Assim o presidente Hugo Chávez, no poder desde 1999, encerrou seu primeiro discurso após o retorno à Venezuela, na noite desta sexta-feira. Chávez falava à porta do avião no qual aterrisou em Caracas após três semanas em Cuba, onde tratava a reincidência de um câncer na região pálvica. A doença, deu a ententer, ainda não está vencida.
"Que ninguém acredite que tudo já passou. Estamos vencendo, mas devemos seguir sendo rigorosmanete disciplinados. Disciplina de recruta", disse Chávez sobre o câncer contra o qual luta desde o ano passado. "Rumo a 2021, rumo a 2030!".
Antes, o presidente havia dito que os venezuelanos terão de cuidar, mais do que o que foi conseguido na primeira década (durante a qual esteve no poder), do que virá nesses próximos 30 anos.
"São essas 3 primeiras décadas deste século as décadas do renascimento que já ocorreu, de crescimento e consolidação nacional da pátria livre independente, grande potência socialista".
Aparentando boa disposição, sem interromper a fala, Chávez discursou durante cerca de 10 minutos. Uma comitiva formada por ministros e militares o recebeu no aeroporto de Caracas. Após os cumprimentos, foi executado o hino da Venezuela.
O presidente aproveitou a ocasião para atacar indiretamente o candidato da oposição às eleições deste ano, o governador Henrique Caprilles. Identificando-o com a direitia, Chávez chamou de irresponsabilidade criminosa as críticas feitas por outro governador, Henrique Salas — do estado de Caraboro — de que a água estava contaminada. Caprilles replicou as críticas.
— A agenda de medo tem recrudescido. A agenda opositora tem chegado a uma irresponsabilidade que raia o criminal. Vejo um governador de direita falar a outro governador de direita dizer que a água que o povo venezuelano consome está contaminada — afirma Chávez.
Segundo uma fonte, um hospital militar foi preparado para a sua chegada. Mas ainda não estava definido se ele continuaria a quimioterapia na Venezuela ou em Cuba.
Críticas da oposição devem amainar
O retorno deve acalmar a oposição venezuelana, que questionava os custos da estada de Chávez e considerava inconstitucional o fato de ele não ter passado o poder ao vice durante sua ausência.
Mais cedo, o presidente venezuelano havia informado de sua viagem de volta por meio do Twitter.
"Boa tarde, mundo bom! Agora mesmo estamos decolando do Aeroporto Internacional José Martí rumo à Pátria. Graças a Deus!", escreveu Chávez por volta das 18h30 (horário de Brasília).
Chávez não deu mais detalhes sobre sua partida nem sobre o andamento do tratamento. No Twitter, ele contou apenas que almoçou com Fidel Castro e que o presidente Raúl Castro foi ao aeroporto se despedir.
O presidente venezuelano viajou no último dia 24 de fevereiro a Havana, onde foi submetido a uma operação para retirada de um tumor maligno na região pélvica, a mesma de onde, em junho de 2011, havia sido retirado um câncer.
Sua ausência irritou opositores. Na quinta-feira, o deputado Carlos Berrizbeitia estimou que a viagem de Chávez, que envolveu uma comitiva de 200 pessoas, custou quase US$ 4 milhões. A ponte aérea entre os dois países e a manutenção da equipe em Havana estariam levando os gastos diários a uma cifra entre US$ 200 mil e US$ 300 mil.
"A crítica não é pelos custos da enfermidade do presidente, mas por sua insistência em exercer o cargo a partir de Havana", disse o deputado ao jornal venezuelano "La Verdad", após apresentar o levantamento extraoficial.
Oficialmente, os detalhes dos gastos de Chávez só serão conhecidos no fim de 2012, quando o Poder Executivo presta contas à Assembleia Nacional. Mas a organização Transparência Venezuela alertou que o orçamento presidencial de 2012 para segurança, custódia e transporte aéreo aumentou 200% em relação ao ano passado.
O jornalista venezuelano Nelson Bocaranda escreveu nesta sexta-feira em seu blog que um médico brasileiro que esteve em Cuba para avaliar Chávez manifestou restrições sobre a eficiência do tratamento cubano. Segundo Bocaranda, o especialista teria dúvidas sobre as partes do corpo de Chávez escolhidas para a aplicação da radioterapia.
Apesar disso, de acordo com o jornalista, Chávez continuará com as próximas etapas do seu tratamento em Cuba, pois mudar agora seria visto como ofensa por seus aliados Fidel e Raúl Castro.
Apesar das dúvidas sobre seu estado de saúde, Chávez se mantém à frente das pesquisas eleitorais na disputa contra o opositor Henrique Capriles Radonski.
A última delas, divulgada na quinta-feira, dava ao presidente 55% da intenção de voto, contra 22% de Capriles. No poder desde 1999, o presidente venezuelano, de 57 anos, busca a terceira reeleição — em 2009, conseguiu aprovar em um referendo a possibilidade de se reeleger indefinidamente. Da Agência O Globo
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