A mudança de poder na CBF, após 23 anos, abre a discussão sobre o futuro. Reeleições em número ilimitado, poder quase absoluto sobre o Campeonato Brasileiro, colégio eleitoral reduzido. Mais do que o poder concentrado, a riqueza concentrada na entidade faz dirigentes de clubes, que se proclamam produtores da matéria prima que abastece a seleção brasileira, clamarem por divisão de recursos e participação nas decisões. A constatação, no entanto, é de que a mudança não se fará sem costuras políticas.
"A CBF deveria se preocupar com a seleção, porque hoje, nem o Mano Menezes sabe quem são os jogadores titulares do Brasil. O futebol é muito conservador. Essa é uma oportunidade histórica para que os clubes se organizem e passem a comandar o futebol no Brasil", disse Luis Alvaro de Oliveira Ribeiro, presidente do Santos, defendendo a criação da Liga de clubes para gerir o Campeonato Brasileiro, dando a eles capacidade de também interferir no calendário. "Os clubes não podem buscar dinheiro lá fora. Mas a CBF pode. Navega sozinha com o patrimônio alheio".
"A CBF deveria se preocupar com a seleção, porque hoje, nem o Mano Menezes sabe quem são os jogadores titulares do Brasil. O futebol é muito conservador. Essa é uma oportunidade histórica para que os clubes se organizem e passem a comandar o futebol no Brasil", disse Luis Alvaro de Oliveira Ribeiro, presidente do Santos, defendendo a criação da Liga de clubes para gerir o Campeonato Brasileiro, dando a eles capacidade de também interferir no calendário. "Os clubes não podem buscar dinheiro lá fora. Mas a CBF pode. Navega sozinha com o patrimônio alheio".
Divisão do bolo
A tese da Liga ganha força. É defendida também por Márcio Braga, ex-presidente do Flamengo e um dos fundadores do Clube dos 13 que, em 1987, assumiu a gestão do Brasileiro quando a CBF se declarou incapaz de realizar o torneio. Dois anos depois, Ricardo Teixeira assumiu a confederação e, aos poucos, o Clube dos 13 se desintegrou. Virou mera agência de repasse de cotas de TV. Quando os clubes passaram a negociar diretamente suas cotas, nada restou.
A Liga, no entanto, só nasceria com uma costura política.
"A lei dá aos clubes o direito de organizar ligas. Mas se a CBF não reconhecer a liga, pode haver conflito com as normas da Fifa", adverte o advogado Theotonio Chermont de Britto, especialista em direito esportivo.
A explicação é simples. A filiação à Fifa é apenas das entidades nacionais. No caso brasileiro, a CBF. Ou seja, sem o reconhecimento da Confederação, os clubes de uma suposta liga estariam fora do chamado "sistema Fifa", fora de competições como a Libertadores, Sul-Americana e o Mundial de Clubes. Em tese, até os jogadores estariam inelegíveis para a seleção.
"Estou procurando dirigentes de clubes e lideranças da sociedade carioca para nos posicionarmos, criarmos uma agenda. A Liga Profissional de Clubes é o primeiro ponto. Mas também a mudança de estatuto da CBF", diz Márcio Braga.
No Brasil, com exceção da Copa União de 1987, as organizações geridas por clubes quase sempre se limitaram a comercializar parte dos direitos comerciais do torneio. Quando assumiram a organização também na parte técnica, o resultado também deixou a desejar: o título de 1987 é discutido até hoje; a segunda edição da Copa União, em 1988, teve mudanças de regulamento — introdução de decisão por pênaltis após empates — com a competição em andamento; e a Copa João Havelange, que reuniu 116 clubes em 2000, após uma disputa judicial envolvendo o rebaixamento do Gama no ano anterior. Ligas como a inglesa e espanhola assumiram, além de direitos comerciais, a confecção de tabelas e a organização técnica.
A tese da mudança de estatuto envolve três pontos: mudança no colégio eleitoral, limitação das reeleições e divisão de recursos da CBF. O sistema eleitoral atual dá grande poder às federações estaduais. As 27 votam, além dos 20 clubes da Série A, todos com o mesmo peso.
"Das 27 federações, só nove têm clubes na Série A. O futuro de Flamengo, São Paulo, Corinthians, não pode ficar na mão do humor da federação do Amapá ou do Sergipe", argumenta Márcio Braga, que também defende um mandato de quatro anos para o presidente da CBF, com uma só reeleição.
"Não acredito na divisão de poder entre CBF e Liga. Deve haver um poder central, só que com maior representatividade dos clubes. Se você amplia o direito a voto para clubes das Séries A e B, eles serão 40, contra 27 federações. Se houver um sistema de peso de votos, cria-se uma representatividade maior da realidade. Mas a CBF é privada, governo e ministério não podem intervir e só a Assembleia Geral pode mudar o estatuto e dar voto a clubes, árbitros. Mas o governo pode, isto sim, colocar na lei do esporte um limite nas reeleições", diz Carlos Miguei Aidar, um dos fundadores e primeiro presidente do Clube dos 13. "Passaram 25 anos desde a Copa União. E nada mudou. Por 23 destes anos, Ricardo Teixeira ficou no poder e os clubes disseram amém. Sócrates dizia com propriedade que nos faltou ′day after`. Tomamos o poder, mas o poder nos tomou de volta. Queria ver uma CBF pobre e clubes ricos...".
Aidar toca na divisão de recursos. Braga é enfático:
"A seleção não é do Ricardo Teixeira, do Marin, do Andres Sanchez. É dos clubes que formam os jogadores". Da Agência O Globo
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