Imagine trabalhar uma vez por semana, passar cerca de oito meses de férias ou, melhor dizendo, em recesso. Conseguiu imaginar? Se a resposta for não, basta passar na Câmara Municipal de Ipojuca, no Litoral Sul de Pernambuco, para conhecer um pouco dessa realidade. O Poder Legislativo do município consumiu R$ 16 milhões dos cofres públicos só no ano passado, mas é o que menos realiza sessões plenárias na Região Metropolitana do Recife. Pelo Regimento Interno, os vereadores têm quatro períodos legislativos ao ano e só são obrigados a realizar 20 sessões plenárias, cinco em cada um deles, nos meses de janeiro, abril, julho e outubro.
O tempo passa e o quadro político na Câmara de Ipojuca parece ter congelado. Há três vereadores de primeiro mandato na Casa, entre os dez eleitos em 2008, mas as práticas (de uma maneira geral) não refletem o crescimento econômico do município, que recebeu, nos últimos anos, investimentos grandiosos, como o Estaleiro Atlântico Sul e a Refinaria Abreu e Lima.
Embora Ipojuca tenha renda per capita anual maior que a do Recife, chegando a R$ 84,4 mil, de acordo com dados do Tribunal de Contas do Estado, a Câmara Municipal não se esforçou para mudar o próprio regimento e dedicar mais dias para discutir projetos e cobrar mais ações do Poder Executivo em plenário.
O site da Câmara diz que houve duplicação na tramitação de projetos entre os anos de 2010 e 2011, pulando respectivamente de 33 para 67. Contudo, a quantidade de matérias debatidas pelos representantes políticos não alterou a rotina da Casa. O artigo 9º do Regimento Interno permite que os vereadores se reúnam de cinco a 30 sessões em cada período legislativo, porém os funcionários que conversaram com o Diario garantiram, em reserva, que eles só comparecem ao plenário às terças-feiras, às vezes também às quintas-feiras. Isso excetua os meses de fevereiro, março, maio, junho, agosto, setembro, novembro e dezembro. Ou seja, ao longo de 365 dias, eles precisam comparecer de 20 a 120 dias no plenário, um total de 245 dias livres para se dedicar exclusivamente às bases.
O Diario chegou a esses dados após ligar para alguns números da Câmara, na tentativa de falar com vereadores, e ser informada que eles só voltariam a trabalhar no dia 2 de abril. A reportagem procurou checar a informação com o presidente da Casa, Carlos Antônio Guedes Monteiro (PMDB), mas ele não lembrava os meses que entrava em recesso. Por Aline Moura, da redação do Diario de Pernambuco
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