Débora Melo - Do UOL, em Santo André (SP)
A advogada de defesa de Lindemberg Alves, que está sendo julgado nesta segunda-feira (13) pela morte da ex-namorada Eloá Pimentel –feita refém por ele durante mais de cem horas em 2008–, tentou desqualificar o testemunho da amiga de Eloá e também refém, Nayara Rodrigues.
“A Nayara mentiu e inventou (...). Por ela ser vítima, o depoimento dela é um depoimento suspeito”, disse Ana Lúcia Assad em entrevista aos jornalistas.
Após o fim do primeiro dia de julgamento, ela voltou a criticar o depoimento. “O que eu poderia dizer é que durante o depoimento da Nayara, que é vítima, houve um exagero, uma dramatização. (...) Ela foi bem orientada por seu advogado, até simulou um choro, uma emoção, para dramatizar.”
A estratégia adotada pela advogada de Lindemberg ao questionar Nayara –primeira testemunha a falar– foi mostrar que a jovem não se lembra de detalhes dos dias do sequestro. A testemunha não soube responder se tomou banho durante o cárcere e se teria dado um calmante ou apenas uma água com açúcar a Eloá –sobre esse ponto, a advogada fez questão de procurar nos autos o depoimento anterior da jovem que citava os calmantes. “A testemunha se confunde, mas a gente acha”, afirmou.
Assad tentou convencer os jurados que o caso não se configura como cárcere privado. Ela questionou por que a arma não foi tirada de Lindemberg se ele teria a soltado ao amarrar as vítimas. Nayara, porém, negou e disse que ele manteve a arma o tempo todo em punho.
Assad ainda perguntou se Nayara teria abraçado o réu. A jovem confirmou a informação, dizendo que eles tiveram uma conversa amigável e se abraçaram num breve momento.
Quase no final do interrogatório, Assad questionou se a jovem teria sido treinada para chorar e perguntou por que ela sempre olhava em direção ao seu advogado antes de responder às perguntas. A pergunta foi indeferida pela juíza.
O julgamento começou hoje no Fórum de Santo André, no ABC Paulista, e pode durar entre três e quatro dias. O réu é acusado de cometer 12 crimes, entre eles homicídio duplamente qualificado por motivo torpe (contra Eloá), tentativa de homicídio (contra Nayara, que foi mantida refém junto com a amiga Eloá, e contra o sargento Atos Valeriano, que participou da ação de resgate), cárcere privado e disparos de arma de fogo. Se for condenado por todos os crimes, a pena pode ser superior a cem anos de prisão –Lindemberg está preso desde 2008.
Depoimento de Nayara
A amiga de Eloá Pimentel Nayara Rodrigues afirmou durante o julgamento que o réu agrediu Eloá durante o período de cativeiro. "Lindemberg agrediu várias vezes a Eloá enquanto nos mantinha reféns", disse Nayara.
Durante o cárcere privado, Nayara chegou a ser libertada, mas acabou retornando ao cativeiro. Para a jovem, o acusado queria se livrar dela para ficar sozinho com Eloá. “Quando eu voltei ao apartamento, ela estava bastante machucada. (...) Eloá dizia o tempo todo que sabia que ia morrer”, declarou Nayara, que foi ferida por um tiro no rosto quando a polícia invadiu o local.
A jovem afirmou que ouviu três disparos antes da entrada da polícia no apartamento --o que comprova a tese da acusação, de que os tiros partiram do réu e não da polícia.
A amiga de Eloá também falou sobre o comportamento do ex-namorado da vítima. “Lindemberg passou a perseguir a Eloá depois que eles terminaram o namoro”, completou. Segundo a jovem, ele a considerava uma má influência para a vítima. "Ele tinha raiva de mim e da minha mãe porque a Eloá andava dormindo lá em casa e a gente saia bastante. Ele dizia que eu a influenciava diretamente."
Já sobre o comportamento do réu durante o cárcere, ela afirmou que Lindemberg dava risada e se vangloriava pela repercussão do caso na mídia. "Na televisão só passava isso [relatos do caso]", disse Nayara.
Entenda o caso
Lindemberg Fernandes Alves, então com 22 anos, invadiu o apartamento de sua ex-namorada Eloá Cristina Pimentel, 15, no segundo andar de um conjunto habitacional na periferia de Santo André, na Grande São Paulo, no dia 13 de outubro de 2008. Armado, ele fez reféns a ex-namorada e outros três amigos dela, que estavam reunidos para fazer um trabalho da escola.
Em mais de cem horas de tensão, Lindemberg chegou a libertar todos os amigos, mas Nayara Rodrigues acabou voltando ao cativeiro, no ponto mais polêmico da tragédia --a polícia, que trabalhava nas negociações, foi bastante criticada por ter permitido o retorno.
Em depoimento, Nayara afirmou que, após ter sido liberada, foi procurada por policiais que queriam que ela tentasse convencer Lindemberg a libertar Eloá pelo telefone. Então ela os acompanhou até o local do sequestro e foi orientada pelo rapaz ao celular a subir as escadas. Nayara disse que Lindemberg prometeu que os três desceriam juntos, mas, quando chegou à porta, viu que ele estava com a arma apontada para a cabeça de Eloá. Então, ele puxou Nayara para dentro do apartamento e não a libertou mais.
Mais tarde, policiais militares do Gate (Grupo de Ações Táticas Especiais) invadiram o apartamento, afirmando que ouviram um estampido do local. Em seguida, foram ouvidos tiros. Dois deles atingiram Eloá, um na cabeça e outro na virilha, e outro atingiu o nariz de Nayara. Eloá morreu horas depois. Lindemberg foi preso.
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