O real é uma das cinco moedas de países emergentes com potencial para se internacionalizar, afirma o Fundo Monetário Internacional (FMI), em estudo preparado pelo seu corpo técnico e divulgado nesta quarta-feira.
Além do Brasil, os outros países que compõem o grupo dos Brics têm chances de internacionalizar as suas moedas, incluindo China, Rússia, Índia e África do Sul. Mas o real provavelmente será uma moeda regional e um ativo de reserva, a exemplo do dólar australiano. Já o yuan da China pode ter papel global, aponta o FMI.
“No longo prazo, as moedas dos países emergentes mostram potencial para atingir um papel mais amplo no uso internacional, similar ao de economias avançadas”, afirma o estudo do FMI.
Na definição usada pelo FMI, internacionalização de uma moeda significa o seu uso fora das fronteiras do país que a emite, incluindo a compra de bens, serviços e uso como ativos financeiros em transações entre não residentes. Hoje, a principal moeda internacional é o dólar dos Estados Unidos. Também têm papel relevante o euro, o iene do Japão e a libra, além de moedas de outros países desenvolvidos, como da Suíça e Canadá.
O FMI analisou os fatores que, no último século, determinaram a internacionalização de moedas de países como o dólar americano, o iene e o marco alemão. Os mais importantes são o tamanho da economia, a rede de comércio internacional do país, o aprofundamento e liquidez do mercado financeiro local e a estabilidade e convertibilidade de cada moeda. Os países emergentes têm avançado bastante nesses quesitos nos últimos anos.
Nos casos dos países que compõem os Brics, afirma o FMI, existem evidências de seu maior uso no cenário internacional. “Por exemplo, o uso do real em derivativos no exterior aumentou 50% [nos anos recentes], dobrou para a rúpia indiana e o rublo russo e aumentou 12 vezes para o yuan chinês.”
A fatia brasileira no comércio mundial se manteve constante nos últimos anos, nota o FMI, mas o país cresceu como parceiro comercial regional. O fato de o Brasil exportar commodities também favorece o uso de sua moeda como ativo financeiro, pois mantê-la em carteira é uma forma de importadores de produtos básicos se protegerem contra oscilações nos preços. O Brasil pontua bem também no quesito abertura da conta de capitais.
Por muitos anos, países emergentes limitaram o papel internacional de suas moedas. Entre os benefícios de ter uma moeda internacional, diz o FMI, estão a redução dos custos de transações e redução dos custos de financiamento. Algumas estimativas indicam que o Tesouro dos Estados Unidos paga 0,6% menos nos seus títulos porque o dólar é uma moeda de reserva.
Os riscos, por outro lado, são a perda de controle sobre o volume de dinheiro em circulação e mais dificuldade para combater a inflação, já que as atividades internacionais fogem do controle dos bancos centrais nacionais. Também podem deixar os países mais vulneráveis à fugas de capitais.De Alex Ribeiro - Valor