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segunda-feira, 14 de outubro de 2024

Relação entre solidão e o diagnóstico de demência

 Por Andrea Ladislau / Doutora em Psicanalise Contemporânea, Neuropsicóloga 
“Me sinto tão sozinho, que chega a doer”. Uma frase de impacto, que pode revelar a cruel realidade de muitas pessoas hoje que sofrem com a solidão.

Principalmente, em idosos que, por conta do envelhecimento, podem apresentar sofrimentos psíquicos motivados por diversas perdas específicas, como: perda da saúde, autonomia, produtividade, papéis sociais, perda de cônjuges, amigos, entre outras perdas pessoais.

Alguns relatos dão conta de que, a dor é tão intensa e insustentável que quase chega a ser física. Uma verdadeira incoerência em meio ao crescimento populacional e a vida atribulada que vivemos. Porém, a verdade é que o ser humano está cada vez mais solitário e fechado em seu mundo particular.

Um cenário que preocupa, pois, pode agravar diversos problemas de saúde, desencadeamento síndromes, transtornos e outras questões de cunho psicológico e fisiológico.

Viver rodeado de pessoas, agitado por inúmeras tarefas, não é sinônimo de que a pessoa não se sente, no fim das contas, solitária. Essa é, inclusive, a principal queixa de muitos: “mesmo me relacionando com muitas pessoas, tenho sempre a sensação de estar só”. Isso ocorre, pois os sentimentos de angústia e depressão tendem a acompanhar e alimentar a sensação de solidão. Quando a solidão se torna crônica, as pessoas tendem a se resignar. Podem ter família, amigos, mas não se sentem verdadeiramente em sintonia com ninguém.

E é neste momento que transtornos ou síndromes oportunistas podem avançar, como por exemplo, a demência, que se caracteriza por um declínio cognitivo ou alterações comportamentais que interferem na capacidade funcional e independência do indivíduo. Manifestando sintomas, como: a perda de memória; desorientação; confusão mental; alterações de humor; dificuldades na assimilação de tarefas; mudança de personalidade; regressão da linguagem; perda da autonomia; agressividade e incapacidade de resolução de problemas cotidianos.

O motivo é que, quando o cérebro entende o seu entorno social como algo hostil e pouco seguro, permanece constantemente em alerta. E as respostas do cérebro solitário podem funcionar para a sobrevivência imediata. Os familiares e amigos geralmente são os primeiros a detectarem os sintomas de solidão crônica. Quando uma pessoa está triste e irritável, talvez esteja pedindo, em silêncio, que alguém a ajude e se conecte com ela. Por isso, a importância em acolher e integrar esse idoso no ciclo familiar e social, a fim de evitar tanto a solidão quanto a demência por falta de interação.

Porém, a solidão é complexa, por ser uma condição mal compreendida e estigmatizada. No entanto, dada sua frequência e suas repercussões na saúde, é preciso mais informação a respeito, acolhimento para identificá-la e abordá-la, com empatia e carinho. Claro que, todos precisamos de momentos de reflexão interna e afastamentos momentâneos. Mas, o alerta precisa ser acionado se essa prática acontece com frequência, intensamente e em detrimento das relações interpessoais.

Enfim, infelizmente, muitos vivem a dor da solidão e precisamos voltar o olhar para essas pessoas que necessitam da reintegração ao meio social e familiar para se sentirem úteis e vivas. Com isso, é possível evitar o surgimento de doenças emocionais ou cognitivas, como a solidão crônica ou a demência. Isolar-se só fará com que o indivíduo esteja mais propenso a desenvolver sintomas e patologias psicológicas que irão contribuir para o prejuízo psíquico de sua saúde mental.

·Andrea Ladislau é doutora em Psicanalise Contemporânea, Neuropsicóloga. Graduada em Letras - Português/ Inglês, Pós graduada em Psicopedagogia e Inclusão Digital, Administração de Empresas Administração Hospitalar. É palestrante, membro da Academia Fluminense de Letras e escreve para diversos veículos. Na pandemia, criou no Whatsapp o grupo Reflexões Positivas, para apoio emocional de pessoas do Brasil inteiro/ Instagram: @dra.andrealadislau

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