Por Melina Guterres | Folhapress
Foto: Divulgação/Cappa
As chuvas que recentemente atingiram o Rio Grande do Sul levaram pesquisadores a encontrar os fósseis de um dinossauro, possivelmente de uma das famílias, Herrerasauridae, mais antigas de que se têm registro.
A expedição comandada pelo paleontólogo Rodrigo Temp Müller, da UFSM (Universidade Federal de Santa Maria), identificou os ossos parcialmente expostos em um sítio fossilífero em São João do Polêsine, cidade de 2.649 habitantes e que fica a 221 km de Porto Alegre.
Após quatro dias de escavações, a equipe de pesquisadores conseguiu remover o bloco de rocha contendo o exemplar, que pode ser o segundo herrerassaurideo -que viveu há cerca de 230 milhões de anos- mais completo já descoberto no mundo.
O tamanho dos ossos indica que o dinossauro teria alcançado em torno de 2,5 metros de comprimento. Depois que for concluída a análise dos fósseis em laboratório, os pesquisadores darão início a uma nova etapa da investigação para confirmar se o exemplar é de uma espécie conhecida ou se seria de uma nova.
Essas etapas ainda devem se estender por alguns meses, uma vez que o trabalho é cuidadoso para que o material não seja danificado. De acordo com Müller, os resultados do estudo podem ser publicados no ano que vem.
Além do esqueleto fossilizado quase completo, os paleontólogos afirmaram que têm resgatado fósseis em outros municípios da região, entre os quais Faxinal do Soturno, Agudo, Dona Francisca e Paraíso do Sul.
Segundo o geólogo e professor da UFSM Átila Augusto Stock da Rosa, as chuvas e erosões acabam tendo impacto na região, assim como nos focos de pesquisa.
As chuvas, que começaram em abril e se estenderam pelo mês seguinte, afetaram 478 dos 497 municípios gaúchos, de acordo com o governo estadual. Foram registrados 182 mortes e 31 pessoas estão desaparecidas.
GEOPARQUE
A cidade onde os fósseis do dinossauro foram encontrados é 1 das 9 que formam o Geoparque Quarta Colônia -as outras são Agudo, Faxinal do Soturno, Ivorá, Nova Palma, Pinhal Grande, Restinga Sêca, Silveira Martins e Dona Francisca.
Geoparque é um selo obtido por territórios que atuam na perspectiva do desenvolvimento local sustentável. Pra ser reconhecido pela Unesco (agência das Nações Unidas dedicada a temas educacionais, científicos e culturais) como geoparque, o local deve possuir importância científica, cultural, paisagística, geológica, arqueológica, paleontológica e histórica.
Outro geoparque gaúcho, o Caçapava do Sul, tem mais de 30 geossítios catalogados. A principal característica do território é a presença de rochas muito antigas.
Neste ano, em março, a Unesco também reconheceu a diversidade de fósseis de dinossauros da cidade mineira de Uberaba com a criação do Geoparque Terra de Gigantes.
A riqueza paleontológica de Uberaba vem de camadas de rocha do período Cretáceo, o último da Era dos Dinossauros. A base dessas camadas, a chamada formação Serra Geral, surgiu quando o oceano Atlântico surgia, durante a separação da América do Sul e de seu continente-irmão, a África. O processo gerou ondas de vulcanismo, de maneira a formar camadas de até 400 m de espessura de basalto (uma rocha vulcânica).
Paleontólogos já identificaram 15 espécies diferentes de vertebrados do Cretáceo na região, incluindo dinossauros carnívoros e herbívoros, crocodilomorfos (parentes extintos dos atuais jacarés), tartarugas, peixes e até um primo dos sapos e rãs modernos. Além disso, a área abriga o maior ninhal de dinossauros conhecido no Brasil, com alguns ovos em excelente estado de preservação.
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