Por Cláudia Collucci | Folhapress
Foto: Gabriel Galli/MS
Quase 3.000 médicos de todo o país se inscreveram para atuar como voluntários no atendimento das vítimas das chuvas do Rio Grande do Sul, em uma campanha promovida pelo CFM (Conselho Federal de Medicina) e conselhos regionais.
A iniciativa ocorre no momento em que há um temor que as consequências das enchentes causem uma onda de doenças como leptospirose, hepatite A e doenças respiratórias, além de superlotação de hospitais e postos de saúde no RS.
Dos 2.804 médicos inscritos até a última sexta (17), a maior parte deles é de São Paulo (738), Minas Gerais (329) e do próprio Rio Grande do Sul (264), segundo dados divulgados pelo CFM.
A maioria (1.498) tem até 35 anos de idade e 1.600 (57%) são mulheres. Há médicos habilitados para os atendimentos básico, especializado, em UTI e medicina legal, entre outros. Além disso, 59% têm experiência em calamidade pública.
Na sexta, o presidente do CFM, José Hiran Gallo, entregou a lista dos médicos inscritos ao ministro da Defesa, José Múcio Monteiro. O governador Eduardo Leite (PSDB) também recebeu uma cópia da lista. A ideia é que eles cuidem da logística (deslocamento, hospedagem, alimentação, suporte operacional, entre outras) desses profissionais.
Em relação às especialidades dos inscritos, mais de 150, por exemplo, são especialistas em cirurgia-geral e 200 em clínica geral. Pouco mais de um quarto (26%) disse ter disponibilidade imediata para iniciar os trabalhos voluntários e 28% dentro de uma semana.
Os médicos também informaram o tempo que podem ficar atuando no Rio Grande do Sul: 28% por até 15 dias; 10% por até 30 dias; e 18% por tempo indeterminado.
"Estamos falando de um grande número de profissionais que poderá socorrer as vítimas dessa tragédia nos próximos dias. É um grupo qualificado, jovem, disponível e com muita vontade de ajudar", disse Gallo, em comunicado.
Para facilitar a atuação dos médicos voluntários, o CFM emitiu uma circular, dispensando a solicitação de visto temporário para os médicos de fora do Rio Grande do Sul. É uma situação de excepcionalidade.
O visto temporário é um instrumento exigido, normalmente, de médicos que vão atuar por até 90 dias em um estado onde não mantem inscrição em CRM.
No caso dos médicos voluntários para atuar no Rio Grande do Sul, será necessário apenas o envio de um e-mail, pelo profissional, ao conselho regional de origem (onde mantenha sua inscrição principal) para comunicação da sua atuação.
O número de médicos inscritos no CFM não contempla outros voluntários que já foram para o RS por conta própria ou por meio de outras entidades médicas.
Além dessa iniciativa do CFM, o Ministério da Saúde também começou a convocação de voluntários para atuação no Rio Grande do Sul por meio da Força Nacional do Sistema Único de Saúde (SUS).
Para isso, é obrigatório que o profissional tenha vínculo público municipal, estadual ou federal. Além disso, é necessário comprovar cinco anos de experiência em atendimento de emergência pré-hospitalar móvel e fixo e hospitalar. Veja aqui os critérios.
No caso de aeromédicos, é exigido diploma de medicina ou enfermagem com regularidade no conselho de classe. O interessado deve possuir Equipamentos de Proteção Individual (EPIs) para tripular aeronave (macacão com tecido anti chama, cadeirinha com mosquetão, freio 8, capacete, luvas de raspa e botas).
"É uma emergência de desastre, com uma complexidade imensa. É necessário ter perfil, não apenas vontade de ajudar", disse o coordenador da Força Nacional do SUS, Fausto Soriano Estrela Neto. Desde o início da calamidade, o número de inscritos no cadastro da FN-SUS subiu de 47 mil, em abril, para 68,4 mil, na semana passada.
A partir desta segunda-feira (20), novos voluntários da Força Nacional do SUS chegarão ao estado. No início do trabalho da Força na região, em 5 de maio, a equipe contava com cem profissionais. Com o reforço, esse número chegará a 202. A medida permitirá que equipes volantes, com médicos e enfermeiros, atuem simultaneamente em dez municípios prioritários.
Além do voluntariado para atuar na linha de frente, há uma série de mobilizações de médicos na arrecadação de medicamentos e outros insumos de saúde.
Segundo o oncologista pediátrico Claudio Galvão de Castro Júnior, foram arrecadados e enviados ao estado gaúcho, por exemplo, 20 mil comprimidos de doxiciclina, medicamento usado da profilaxia da leptospirose e destinado a pessoas que ficaram muito tempo em contato com a água contaminada.
"Centenas de médicos de todo o Brasil foram às farmácias e compramos esses comprimidos. Centralizamos no Hospital do Rim [em São Paulo] e conseguimos um voo voluntário para isso chegar ao destino final", afirma.
Nenhum comentário:
Postar um comentário