> TABOCAS NOTICIAS : Candidato que promete resolver eleição 'na bala' pratica abuso de poder político, não humor

sexta-feira, 15 de março de 2024

Candidato que promete resolver eleição 'na bala' pratica abuso de poder político, não humor

Voto de Antonio Carlos Ferreira afastou vertente humorística da fala do candidato
Antonio Augusto/Secom/TSE
O candidato que promete resolver a eleição “na bala”, ao promover infundadas agressões contra a democracia e o sistema eletrônico de votação, pratica abuso de poder político e uso indevido dos meios de comunicação social. Por Danilo Vital / correspondente da revista Consultor Jurídico em Brasília

Com esse entendimento, o Tribunal Superior Eleitoral manteve a cassação e decretação de inelegibilidade de Delegado Cavalcante (PL-CE), que concorreu ao cargo de deputado federal em 2022.

Cavalcante era deputado estadual e fazia campanha ao cargo federal quando fez o polêmico discurso, em 7 de setembro de 2022. Ele não chegou a ser eleito, mas ficou como suplente.

O candidato disse que “não vamos aceitar que as urnas deem a vitória para quem não presta” e que “se a gente não ganhar nas urnas, se eles roubarem nas urnas, nós vamos ganhar na bala”.

Também disse que se o então presidente Jair Bolsonaro “tivesse confiança nas urnas, se as urnas tivessem confiabilidade, nós ganhamos no primeiro turno” e que “não vamos aceitar covardia”.

Por maioria de votos, o TSE afastou a proposta do relator, ministro Raul Araújo, para quem a fala não teve gravidade por se tratar de proselitismo político e brava, “uma coisa mais de humor do que propriamente veracidade”.
Sem graça nenhuma

Para Araújo, o pronunciamento do candidato não trouxe ameaça direta e efetiva ao regime democrático, tampouco aos demais adversários, nem fez referência a fatos desabonadores ou sabidamente inverídicos.

Ele entendeu que o Delegado Cavalcante já era conhecido por usar essa linguagem espalhafatosa, mas sempre voltada para o lado bem-humorado. Assim, não houve tom de ameaça real na promessa de resolver a eleição “na bala”.

Abriu a divergência o ministro Antonio Carlos Ferreira, que afastou a ideia de que foi um discurso cômico. A gravidade fica comprovada inclusive pela posição social do candidato, deputado estadual e policial civil.

Para Raul Araújo, promessa de “resolver na bala” foi bravata de tom humorístico
Alejandro Zambrana/Secom/TSE
“A fala apresenta nítido teor de ataque e descrédito ao sistema eletrônico de votação e à democracia, pois promoveu ódio e disseminou fatos inverídicos, ensejando incerteza sobre o resultado das eleições”, disse Ferreira.

O ministro Floriano de Azevedo Marques acrescentou que o discursou ticou vários itens que o TSE tem usado para caracterizar abuso de poder político: violência eleitoral, desafio às urnas, deslegitimação do processo eleitoral e acintosa irresignação contra resultado da eleição.

Já a ministra Cármen Lúcia destacou que nem a curta duração da fala permite afastar o ato ilícito. “Não me parece que seja a extensão de uma fala que vá dar proporcionalidade ou não ao que foi dito”, disse.
Autoridades covardes

Ao fechar a votação, o ministro Alexandre de Moraes declarou que discursos como o do Delegado Cavalcante no 7 de setembro de 2022 foi o que gerou os ataques de 8 de janeiro de 2023 contra as sedes dos três Poderes em Brasília.

“Autoridades covardes, como essa, ficavam atrás de seus gabinetes, incentivando diversas pessoas a tentarem dar um golpe, a atentarem contra a democracia, num plano golpista para subverter as Forças Armadas”, disse.

“Essas pessoas, como o recorrente, depois se escondem ou tentam se esconder na imunidade parlamentar, enquanto aqueles que eles instigaram estão com penas de 12 a 17 anos, condenadas pelo Supremo Tribunal Federal”, acrescentou.

RO 0602936-06.2022.6.06.0000

Nenhum comentário:

Postar um comentário