Por Nicola Pampalona | Folhapress
Foto: Divulgação
A Eletrobras fechou 2023 com lucro líquido de R$ 4,4 bilhões, alta de 21% em relação ao ano anterior, resultado impulsionado principalmente por redução de custos e aumento das receitas de transmissão de energia.
Pelo desempenho, a empresa distribuirá R$ 1,3 bilhão em dividendos. O governo, que pressiona para ampliar sua influência na gestão, ficará com cerca de R$ 550 milhões por sua participação de 42,65%.
No texto de divulgação do balanço, o presidente da companhia, Ivan Monteiro, defendeu que seu novo modelo de negócios "tem gerado resultados consistentes, pautados na disciplina de capital, eficiência operacional, foco no cliente e um aumento importante na capacidade de investimentos".
"Avançamos muito e vamos seguir na trilha do crescimento, nos pautando sempre pela segurança das pessoas, dos ativos e na geração de energia limpa que contribua para a transição energética que precisamos acelerar", concluiu.
Foi o primeiro balanço anual completo após a privatização da companhia, em 2022. A transformação da ex-estatal em uma empresa sem controlador definido teve a oposição do PT e aliados na época e é hoje alvo de ações judiciais movidas pelo governo Lula.
Lula defende que a União deve ter mais influência na gestão da Eletrobras, já que o estatuto atual limita o poder de voto a 10% do capital votante. O tema hoje é foco de um processo de conciliação entre a empresa e o governo.
Monteiro disse em teleconferência com analistas nesta quinta-feira (14) que não pode comentar o andamento da conciliação, que está sob sigilo.
Além da Eletrobras, o governo Lula tem sob sua mira também a Vale, outra empresa sem controlador definido, na qual o presidente vem tentando aumentar influência. Na estatal Petrobras, ruídos entre o governo e a gestão da empresa também vêm gerando problemas, como o derretimento do preço das ações.
Em entrevista nesta quinta, Monteiro reforçou o argumento de que a nova estrutura da Eletrobras melhora sua capacidade de investimento da empresa. "Estamos tornando a empresa mais competitiva para aumentar o investimento", afirmou.
Neste primeiro ano todo sob gestão privada, a Eletrobras investiu R$ 9 bilhões, alta de 60% em relação ao ano anterior e quase o triplo de 2021. A alta nos investimentos reflete a retomada das obras da linha de transmissão entre Manaus e Boa Vista, que demandou R$ 3,3 bilhões, e pelo parque eólico de Coxilha Negra, com R$ 2,1 bilhões.
A expectativa é manter o mesmo valor de investimentos em 2024, com destinação de R$ 3,2 bilhões para segurança e qualidade do serviço, modernizando parte dos cerca de 60 mil equipamentos que a companhia tem espalhados pelo país.
As críticas do governo à gestão da empresa foram reforçadas pela realização de planos de demissão voluntária, que reduziram o número de empregados em 20% no primeiro ano após a privatização. O governo chegou a pedir que a empresa suspendesse programas de demissão.
Em janeiro de 2024, a Eletrobras tinha 7.911 empregados, queda de 18% em relação ao fim de 2022. Parte dos demitidos foi compensada com a contratação de 770 novos profissionais, destacou Monteiro.
As despesas com pessoal, material, serviços e outros caíram 27% no quarto trimestre de 2023, na comparação com o mesmo período do ano anterior, para R$ 1,8 bilhão. No quarto, a Eletrobras teve lucro líquido de R$ 893 milhões.
No fim do ano, em outra frente, o governo questionou a proposta de incorporação de Furnas à Eletrobras, processo que foi alvo de liminares pedidas por sindicatos em dezembro, mas acabou sendo concluído em janeiro.
Em 2023, a Eletrobras diversificou sua carteira de clientes de energia, uma das preocupações do mercado financeiro após o processo de descotização da energia das hidrelétricas da companhia, resultado do processo de privatização.
Encerrou 2023 com uma base de 469 clientes, sendo 393 no mercado livre de energia, um crescimento significativo em relação aos 249 clientes do ano anterior. Já em consumidores finais, a Eletrobras saiu de 46 no fim de 2022 para 269 no último trimestre de 2023.
"Num cenário de melhora dos preços de energia, como o que se desenha atualmente, o impacto dessas iniciativas (em comercialização) deve ser ainda mais visível nos resultados", disse a Eletrobras.
Em contingências, a Eletrobras apontou uma redução de 41% do estoque do empréstimo compulsório, o principal passivo de seu balanço, para 17,2 bilhões de reais, quando comparado aos 24,3 bilhões de reais do último trimestre de 2022.
Em todo o ano de 2023, as provisões operacionais da Eletrobras apresentaram uma melhora de 68%, passando de 6,928 bilhões de reais em 2022 para 2,196 bilhões. O estoque de empréstimos compulsórios, principal passivo judicial da empresa, caiu de R$ 24,3 bilhões para R$ 17,2 bilhões entre 2022 e 2023.
Nenhum comentário:
Postar um comentário