por Fernando Duarte
Foto: Divulgação
Universidade pública para quem? Essa é uma pergunta cada vez mais difícil de ser respondida. Se há mais de uma década podemos falar nas universidades públicas como balizadoras de um momento de menor desigualdade social, com a implantação da política de cotas, em 2019 é assustadora a forma como se comportam os governantes na relação com elas. Isso vale tanto para o Ministério da Educação, controlado pelo núcleo de extrema-direita do governo de Jair Bolsonaro, quanto para a Secretaria Estadual de Educação, do petista Rui Costa.
Logicamente, o sucateamento da Universidade Federal da Bahia (Ufba) promovido por Bolsonaro gerará muito mais barulho do que o que acontece nas universidades estaduais baianas. Acusada de promover “balbúrdia”, a Ufba sofrerá não apenas com corte de verbas, conforme anunciado pelo MEC, mas também com a perda de prestígio para obter novos recursos. O sangramento que não para de acontecer desde a época de Dilma Rousseff no Palácio do Planalto. Além de não ser entancado, virou uma ferida aberta.
Passei por duas faculdades nela – Biologia e Jornalismo. O governo federal estava sob a tutela de Luiz Inácio Lula da Silva e faltavam recursos para insumos básicos. No curso de Jornalismo, por exemplo, não havia paredes. Os professores eram, em sua maioria, resilientes. Grande parte com formação de esquerda, porém nem de longe faziam patrulhamento ideológico ou lavagem cerebral. Não saí com o diploma em “esquerdopatia” e jamais participei de orgias – nem nunca fui convidado para elas. Convivi com pessoas que fumavam maconha esporadicamente e que se tornaram profissionais invejáveis.
A Ufba está longe de ser uma universidade ideal. Porém diminuir ainda mais o orçamento que ela recebe não é a solução para nada. Mesmo sem os recursos disponíveis no ensino privado, considero minha formação de alta qualidade. Caso a ideia do governo federal seja pôr fim ao ensino público gratuito nas universidades, acho mais justo admitir isso do que simular que existe partidarismo nelas para justificar o fim dessa modalidade de ensino.
Enquanto o governo federal provoca convulsões sociais com esse sucateamento das universidades, na Bahia as instituições de ensino superior estaduais estão paralisadas por conta da greve dos professores. Na mesma toada com que existe a defesa da Ufba, os docentes reclamam que o governo da Bahia sucateia as universidades das quais é responsável com sucessivos cortes no orçamento. Pena que apenas eles engrossam o coro.
O secretário de Educação, Jerônimo Rodrigues, é professor de carreira da Universidade Estadual de Feira de Santana, mas simplificou o movimento como político. E defendeu o corte do ponto dos professores, algo que seria inesperado para um governo de um sindicalista. Porém Rui Costa é de esquerda e não se falará com a mesma intensidade sobre o assunto.
Nessa batalha discursiva, uma coisa é certa: os grandes prejudicados nessa briga são os estudantes. Principalmente aqueles que não teriam oportunidade de ingressar no ensino superior, caso não houvesse universidade pública gratuita. Sabe quem mais perde? A sociedade brasileira. Independente do lado em que você esteja.
Este texto integra o comentário desta quinta-feira (1º) para a RBN Digital, veiculado às 7h e às 12h30, e para as rádios Excelsior, Irecê Líder FM, Clube FM e RB FM.
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