Levantamento foi feito pela ANS de dezembro de 2014 a dezembro de 2015.
Coordenadora jurídica da Aduseps estabelece relação com a crise. Thays Estarque / Do G1 PE - Diante da crise econômica e do aumento do desemprego, aliado a reajustes abusivos, 86.975 pessoas deixaram de usar planos de saúde privados em 2015 no estado. O levantamento, feito pela Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS), corresponde o período de dezembro de 2014 a dezembro de 2015. Até então, o quadro era favorável para o mercado de planos em Pernambuco. Em 2013, mais de 43 mil usuários aderiram ao setor privado.
Para a coordenadora jurídica da Associação de Defesa dos Usuários de Seguros, Planos e Sistemas de Saúde (Aduseps), Keyla Guerra, essa queda brusca é o reflexo da crise econômica. Uma bola de neve que atinge os planos de saúde, que por sua vez - para permanecer operando - aplica reajustes abusivos aos usuários.
"Quem se prejudica é a população que está no fim dessa cadeia. A pessoa não tem como ter essa percepção, como discutir essa adesão, porque não tem como prever esses aumentos. Pela necessidade acaba adotando o plano, mas com o tempo não consegue mais administrar. Há reajustes abusivos para pessoas com 59 anos de 100%, enquanto há reajustes coletivos, incluindo taxas de administradoras, que chega a 60%", comentou a coordenadora.
Isso tudo ocorre em plena epidemia das doenças transmitidas pelo Aedes aegypti no estado: dengue, zika e chikungunya. A rede pública, que já se encontra em uma situação delicada, acaba tendo que suportar um aumento na procura. "Estamos observando um aumento nos requerimentos de Unidades de Tratamento Intensivos (UTIs). Teve um dia no mês passado [fevereiro] que tínhamos 158 solicitações. Hoje, temos 598 pedidos de UTIs. Chegamos até a enviar um ofício para a Secretaria Estadual de Saúde para investigar essa situação", pondera Keyla Guerra.
Com três dependentes, sendo uma delas a mãe com sérios problemas de saúde, a família do vendedor Luzinilson Ferreira, de 55 anos, está recorrendo à rede pública desde outubro de 2015, quando o plano que atendia a empresa em que trabalha resolveu aumentar em 170% o valor cobrado. “Eles disseram que ou a gente aceitava ou não interessaria mais para eles continuarem nos atendendo. Nenhum funcionário pôde pagar e a empresa migrou para outro plano”.
O problema é que esse outro plano não aceitava dependentes. “O plano não é só para mim, é para minha mulher, minha filha e minha mãe. Elas não podem ficar desatendidas, mas eu não tenho condição de pagar outro assim”, lamenta. Desde então, já precisou ser atendido nos hospitais públicos do Recife. “Minha mãe tem problemas cardíacos e um aneurisma na veia aorta. Ela [mãe] é frágil e nossa rede pública não é muito boa , mas é o que temos para hoje. Não temos opção”, lastima.
Na contramão, aos trancos e barrancos, a comerciante informal Maria da Conceição da Silva, de 59 anos, luta bravamente para continuar com seu plano de saúde. Sem uma renda fixa no fim do mês, se aperta e economiza o quanto pode para garantir o atendimento na rede privada quando precisa. “Me privo de quase tudo porque o plano é caro, mas a gente não sabe o dia de amanhã. Não sei até quando essa situação [crise] vai continuar e nem até quando vou conseguir pagar. É difícil, mas vou mantendo até quando puder”, adianta.
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