Aos 85 anos, o poeta Ferreira Gullar, membro da Academia Brasileira de Letras e observador atento da política brasileira, acredita que o aprofundamento da crise, que teve na condução coercitiva do ex-presidente Lula a depor pela Polícia Federal um combustível, deve levar ao sepultamento do populismo no País.
"O passado do Lula é impossível de negar ou apagar. Mas os fatos apurados demonstram que ele não era a figura que ele fez questão de mostrar que era. Ele usou o Estado, ajudou no fortalecimento de seu partido com propina. O populismo deslavado está chegando ao fim. Chegou na Argentina, está chegando à Bolívia, à Venezuela."
Ele viu arrogância na reação de Lula à ação da PF. "Ele não foi preso, agredido. Ele se julga acima da lei. A carta que escreveu diz que prestaria depoimento a quem fosse digno de recebê-lo. Então é ele que escolhe? Não tem sentido." Para o escritor, as investigações estão revelando de forma objetiva malfeitos de Lula durante o exercício da Presidência da República - o que não significa que o governo Dilma Rousseff vá se tornar insustentável, tampouco que o Brasil tenha uma alternativa viável para substituí-la.
"Não torço pelo impeachment. Não temos uma liderança com prestígio nacional, de plena confiança, capaz de empunhar o poder nesse momento de tantos problemas e dificuldades. O único poder único que está funcionando é o Judiciário, e não é possível sustentar um país sem um governo. Se fosse em outra época, haveria um golpe militar, mas felizmente isso não vai acontecer".
O cientista político Luiz Werneck Vianna lembrou que foi a primeira vez no Brasil em que um ex-presidente foi submetido a uma condução coercitiva para depor, e apontou o peso simbólico dessa medida. "A crise já está num ponto crítico há algum tempo, não desata, é crônica. Todo dia é mesma agonia. As autoridades judiciárias envolvidas acharam que era necessária essa condução porque tem fatos, um sítio em Atibaia, um tríplex, empresários que o cercavam recebendo benefícios. Essa relação espúria entre público e privado é o fato maior", afirmou o pesquisador.
Autor de livros como Democracia e os três poderes no Brasil e A judicialização da política e das relações sociais no Brasil, doutor em sociologia pela Universidade de São Paulo, ele não vê a possibilidade de impeachment na atual conjuntura, apesar da agravamento da crise política. "Vai ter maioria no parlamento? Vai ter maioria nas ruas pedindo impeachment? Não. Então a presidente fica, e nós ficamos imersos."
Werneck Vianna considera que a figura de Lula não passará incólume à história. "Ele continua tão relevante quanto antes, tem voto, tem partido, foi presidente duas vezes. Mas há fatos a serem apurados, muito dinheiro envolvido, então tem que apurar o que foi feito com esse dinheiro", defendeu.
"O Brasil precisa tirar essa crise da frente. E o nome da crise é Dilma. Acho difícil que seja superada no médio prazo, mas os países não morrem, eles superam. Afeganistão e Iraque estão lá, quebrados, mas estão. O Brasil vai continuar, mas tem que ser de maneira mais saudável para sua população". (AE). Do Portal Interior da Bahia
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