Em um estudo realizado em setembro do ano passado, pesquisadores do Reino Unido sugeriram que certos distúrbios mentais, como o mal de Alzheimer, poderiam ser transmissíveis por alguns procedimentos médicos. No entanto, a descoberta fez com que cientistas mais céticos chegassem a pedir cautela com a alegação.
Contudo, um conjunto de diferentes resultados de autópsias realizadas em pacientes que morreram de uma rara doença neurodegenerativa, colocou o assunto novamente em pauta. Merelyn Cerqueira
De acordo o um estudo publicado pela revista Nature, as autópsias foram realizadas em vítimas da Creutzfeldt-Jakob (CJD) - um raro distúrbio de caráter neurodegenerativo, sem tratamento e fatal em todos os casos já reportados. Contudo, muitos anos antes, esses indivíduos haviam recebido enxertos cirúrgicos de dura-máter (a mais superficial das três meninges que envolvem o cérebro e a medula espinhal), a partir de cadáveres humanos. Porém, esses enxertos estavam “contaminados” com a proteína responsável pela CJD.
Entre cinco dos sete cérebros analisados, também foram identificados sinais de Alzheimer, o que causou confusão entre os cientistas, pois tratavam-se de indivíduos entre 28 e 63 anos, considerados jovens demais para ter desenvolvido placas de beta-amiloides, que podem ser um indicativo da doença neurológica. Essa observação sugere que as “sementes” de certas doenças neurológicas podem ser transmitidas durante alguns procedimentos cirúrgicos ou até mesmo através de instrumentos cirúrgicos contaminados.Depósitos da proteína beta-amiloide no córtex frontal.
Outro caso foi relatado em setembro, quando uma equipe diferente de pesquisadores, agora daUniverisity of College London, descobriu algo muito semelhante ao executar autópsias em vítimas de CJD. Foi observado que quatro deles apresentavam a mesma alteração patológica causada pelo Alzheimer e, infelizmente, todos esses pacientes eram muito jovens quando morreram. Os cientistas identificaram que eles desenvolveram CJD a partir de um hormônio de crescimento derivado das glândulas pituitárias, por conta de uma contaminação feita por cadáveres humanos.
No entanto, é importante ressaltar que nenhum dos estudos sugere que o mal de Alzheimer possa ser transmitido através de contato físico normal. Além disso, o procedimento que envolve o transplante de hormônios de crescimento (HGH) de cadáveres para pacientes vivos, não é mais usado, sendo substituído por produtos sintéticos. Porém, os cientistas agora estão preocupados com a “sementes” de beta-amiloide – que poderiam ser uma forma de transmissão da doença.
Se isso for verdade, existiriam diversas implicações clínicas nos ambientes hospitalares e pressão sobre a comunidade médica. Por exemplo, em casos de cirurgias, quaisquer proteínas beta-amiloides (que podem se depositar em qualquer lugar) não iriam mais ser retiradas com instrumentos cirúrgicos comuns – como é feito atualmente – seria necessário outro padrão de esterilização para evitar uma possível contaminação. [ Nature / Portal Saúde ] [ Foto: Reprodução / Frontzek K, Lutz MI, Aguzzi A, Kovacs GG, Budka H.er. via Nature / France Bleu ]
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