A falta de energia e de
água pode agravar o quadro recessivo da economia brasileira esperado
para este ano. A queda no Produto Interno Bruto (PIB) projetada por
economistas inicialmente em 0 5% para 2015 pode chegar a 1,8%, só por
causa de um racionamento de energia, segundo a consultoria Tendências.
Já a equipe de economistas do banco Credit Suisse considera um recuo de
até 1 5% no PIB com o problema energético. Se for levado em conta também
um corte no abastecimento de água, o recuo será ainda maior, podendo
chegar a 2%, afirma Alessandra Ribeiro, sócia da Tendências. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo
O
impacto de um racionamento de água na atividade é um cenário novo para
traçar projeções, pois não se sabe quanto as empresas do setor de
serviços, que responde por 67% do PIB, consomem de água, observa
Alessandra. Na indústria, existem alguns parâmetros. Para fabricar um
carro e uma calça jeans, por exemplo, são gastos 400 mil litros e 17,2
mil litros de água, respectivamente.
Nas últimas semanas, a
situação do abastecimento de água complicou para as indústrias de São
Paulo, Rio Janeiro e de Minas Gerais. O governo do Rio se reuniu com
grandes indústrias, como Companhia Siderúrgica do Atlântico (CSA),
Gerdau e Furnas e determinou que elas comprem água de reúso para liberar
mais água do Rio Guandu para a população.
Em São Paulo, a
Agência Nacional de Águas e o Departamento de Águas e Energia Elétrica
determinaram que as indústrias que captam água das bacias dos rios
Jaguari, Camanducaia e Atibaia reduzam em 30% o consumo diário após o
reservatório do Sistema Cantareira ficar abaixo de 5%.
Em Minas, o
governo convocou os empresários da Região Metropolitana de Belo
Horizonte a reduzirem o consumo em 30% dentro de 90 dias. Segundo o
gerente de Meio Ambiente da Federação das Indústrias do Estado de Minas
Gerais, Wagner Soares Costa, a medida afetará 15 mil pequenas
indústrias, que não têm captação própria.
Impacto. Em São Paulo e
no Rio, as medidas de redução de consumo afetarão 60% das indústrias,
calculam a Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) e a
Federação das Indústrias do Rio de Janeiro (Firjan). O impacto é
considerável, já que as indústrias paulista e fluminense respondem por
7,5% do PIB do País.
Pesquisa feita pela Firjan no fim de 2014
mostrava que três em cada dez indústrias já estavam sendo afetadas pela
escassez de água. Neste mês, o problema foi ampliado, mas a entidade não
tem nova sondagem. Entre as empresas afetadas, 6% demitiram por causa
de dificuldades na produção e 1,3% deram férias coletivas.
Jorge
Peron, especialista em Meio Ambiente da Firjan, diz que 3 8 mil empresas
estão às margens do Rio Paraíba do Sul, que está com 2,5% de nível de
água. Essas empresas respondem por 65% do PIB do Estado e empregam 35
mil pessoas. "Algumas têm mais e outras menos dependência de água e é
certo que várias serão afetadas."
Segundo Paulo Skaf, presidente
da Fiesp, empresas que respondem por 56% do PIB industrial paulista
(cerca de 40 mil estabelecimentos que empregam 2 milhões de pessoas),
estão sob risco. "A situação é gravíssima e vai afetar fortemente todos -
indústria, comércio, agricultura, população -, mas ainda não é possível
medir esse impacto." Ele não descarta, contudo, a possibilidade de, num
cenário crítico, empresas terem de parar a produção.
"É o resumo
da falta de obras, falta de transparência, de providências em tempo
certo e agora quem vai pagar o pato é a sociedade", afirma Skaf.
A
preocupação com racionamento afetou as expectativas da indústria.
Sondagem da Indústria de Transformação da FGV mostra que em janeiro o
índice de expectativa de negócios para seis meses caiu para um nível
próximo de 100 pontos, que é muito baixo em termos históricos, observa o
superintendente da FGV, Aloisio Campelo. "Esse resultado tem a ver com
muitos fatores: desde a expectativa de que a demanda continua
enfraquecida até preocupação com riscos de racionamento de água e de
energia."
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