do BOL, em São Paulo/Rina Castelnuovo/The New York Times
Em depoimento ao NYT, Ophira Dorin, que recebeu ajuda de traficantes, contou como foi fácil para comprar um rim. "Minha situação era crítica", contou Dorin. "Eu não me sentia bem, e minha condição estava se agravando. Mesmo sabendo que era ilegal, acho que eu não teria feito nada diferente"
Reportagem do The New York Times denunciou um esquema de tráfico de órgãos que explorava doadores pobres e pacientes desesperados. De acordo com a investigação, três homens estão entre os maiores operadores no mercado israelense clandestino de rins. Segundo o jornal norte-americano, os traficantes cobravam até US$ 200 mil para organizar transplantes em outros países, como na Costa Rica, que é uma das principais rotas do "turismo de transplantes".
O NYT rastreou um hospital em San José, capital de Costa Rica, até Ramat Gan, distrito comercial movimentado próximo a Tel Aviv, em Israel. Avigad Sandler, ex-corretor de seguros suspeito de tráfico, Boris Volfman, emigrado ucraniano e protegido de Sandler, e o empresário Yaacov Dayan eram os responsáveis pelo trâmite.
Em depoimento ao NYT, Ophira Dorin, que recebeu ajuda de traficantes, contou como foi fácil para comprar um rim.
"Minha situação era crítica", contou Dorin. "Eu não me sentia bem, e minha condição estava se agravando. Mesmo sabendo que era ilegal, acho que eu não teria feito nada diferente".
A família de Ophira Dorin foi encaminhada a Avigad Sandler, que disse estar enviando clientes ao Sri Lanka por US$ 200 mil em dinheiro vivo, segundo Dorin contou. Os colegas de trabalho da paciente promoveram um evento para levantar fundos, e seus pais refinanciaram sua casa.
Um cambista disse à mãe de Dorin que seu tio tinha feito um transplante de rim no Sri Lanka por menos dinheiro que isso. O intermediário usado pelo tio em questão, Boris Volfman, pediu US$ 10 mil à vista e disse a Dorin que ela teria que levar os outros US$ 150 mil ao Sri Lanka. No dia seguinte a polícia israelense prendeu Volfman, Sandler e outros por suspeita de tráfico de órgãos. As suspeitas não tinham relação com o caso de Dorin.
Pouco tempo depois, as negociações foram retomadas com Dayan, que, segundo Dorin, disse que um transplante na Costa Rica sairia por US$ 175 mil. Ele tomou o cuidado de não especificar que esse valor incluiria um rim. "Mas ficou subentendido que o pagamento abrangeria tudo, incluindo o órgão", disse Dorin.
Segundo relatou, parte do dinheiro foi transferida eletronicamente para um hospital em San José e que ela fez um pagamento ao nefrologista Francisco José Mora Palma, que supervisionou seu transplante. Mora então pagou US$ 18,5 mil a um desempregado de 37 anos por seu rim, de acordo com um documento do tribunal.
Conforme apuração do NYT, o governo costa-riquenho não sabe ao certo quantos estrangeiros receberam transplantes de órgãos de origem suspeita. Mas o NYT identificou 11 pacientes - seis israelenses, três gregos e dois residentes americanos - que viajaram a San José para fazer transplantes de rins obtidos de moradores locais. Dois outros israelenses localizados trouxeram doadores de Israel com eles. Os que forneceram rins a pacientes estrangeiros foram, em sua maioria, homens de baixa renda e baixo nível de instrução.
Em 18 de junho de 2013, policiais costa-riquenhos invadiram o hospital Calderón Guardia e prenderam o Dr. Mora. O Organismo de Investigação Judicial, o FBI do país, também prendeu Maureen Cordero e apreendeu registros médicos de Mora. O médico passou quatro meses preso, até pagar fiança de US$ 180 mil, e a rede de tráfico foi desbaratada.
A Organização Mundial da Saúde estima que a oferta de órgãos transplantáveis não satisfaz um décimo da demanda. Especialistas dizem que milhares de pacientes por ano provavelmente recebem transplantes ilícitos no exterior. Quase sempre as pessoas que vendem seus órgãos são pobres e mal informadas sobre os riscos. (Com informações do jornal The New York Times)
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