Integrantes da CPI dos Ônibus, na Câmara Municipal do Rio de Janeiro, ignoraram os pedidos dos manifestantes por mais transparência e transferiram sua primeira sessão, ontem de manhã, do plenário para a sala do cerimonial. A reunião ocorreu a portas fechadas para a população, o que gerou revolta entre os manifestantes do lado de fora do prédio. Policiais militares, equipados com escudos, bloquearam todas as ruas que dão acesso à sede do Legislativo, na Cinelândia, no Centro da capital fluminense. Funcionários da Casa precisavam mostrar o crachá aos militares para poder passar das barreiras.
O vereador Jeferson Moura (PSOL) criticou o fechamento da rua. "Pelo que fui informado, o reforço policial foi solicitado pela Presidência da Casa. Desde os tempos da ditadura, não há registro do fechamento de uma área pública no entorno da Câmara. Há o impedimento de circulação até de pessoas que trabalham na região". O vereador também avaliou como preocupante o fato de a primeira reunião da CPI ser realizada a portas fechadas. "Terminar em pizza já vimos, mas começar será a primeira vez".
Os 10 manifestantes que ocupam a Câmara desde sexta-feira tiveram autorização para assistir à reunião, que aconteceu na sala do cerimonial. Em protesto, eles colocaram faixas pretas na boca, como forma de manifestar inconformismo com o que consideraram uma censura por parte da presidência da CPI.
Às 14h, porém, o sistema de som da Casa anunciou o cancelamento da sessão da tarde, o que revoltou ainda mais os manifestantes dentro e fora da Casa. A instalação da CPI era uma das reivindicações dos protestos que, desde junho, varrem as ruas no Rio. Entre as justificativas apresentadas pela Mesa Diretora para o cancelamento estava a violência cometida contra os vereadores. Segundo o presidente da Casa, Jorge Felippe (PMDB), a decisão foi tomada para evitar um "banho de sangue". Mesmo escoltados por seguranças e PMs, Brazão e o Professor Uóston (PMDB), relator da comissão, foram hostilizados e agredidos com tapas e ovos ao deixarem pelos fundos a Câmara, no fim da manhã. Os manifestantes gritavam palavras de ordem: %u201Cladrões%u201D, %u201Cesta Casa é nossa%u201D.
Jorge Felippe, que só conseguiu deixar o local com a ajuda do Batalhão de Choque, informou que a Câmara vai contratar PMs de folga para fazer segurança permanente na Casa. O vereador Luiz Carlos Ramos (PSDC) saiu do prédio correndo, desviando de pedras. Os manifestantes estão descontentes com a escolha dos peemedebistas "Brazão e Uóston, colegas de partido do prefeito do Rio, Eduardo Paes " para comandar a CPI que vai investigar a concessão das linhas de ônibus municipais do Rio.
CALENDÁRIO
Os integrantes da CPI chegaram a montar pela manhã um calendário de trabalhos até o fim de setembro. Eles definiram que as sessões ocorrerão todas as quintas-feiras às 10h. A lista de convidados da CPI inclui servidores da prefeitura e os representantes legais dos quatro consórcios que operam na cidade. Na prática, isso significa que, por enquanto, não está assegurada a presença do empresário Jacob Barata Filho, herdeiro do empresário conhecido como Rei dos Ônibus, já que ele não representa oficialmente o consórcios. Entre os temas que serão tratados nas reuniões estão a suspeita da formação de cartel e detalhes sobre os cálculos das tarifas.
Na noite de quarta-feira, a Polícia Civil anunciou a abertura de inquérito para apurar possíveis excessos da ação da Polícia Militar na frente da delegacia do Catete, durante os protestos daquele dia. Uma das bombas lançadas pelo Batalhão de Choque da PM atingiu a porta de vidro da delegacia, que ficou completamente destruída. Criticado por manifestantes e por grupos de direitos humanos pela sua atuação durante os protestos nas ruas, o comandante do Batalhão de Choque, o tenente-coronel Fábio Almeida de Souza vai assumir o Batalhão de Operações Especiais (Bope). Souza havia deixado o Bope para assumir o batalhão.
Amarildo
O advogado João Tancredo, que representa a família do auxiliar de pedreiro Amarildo de Souza, morador da Favela da Rocinha, na Zona Sul do Rio, e desaparecido desde 14 de julho, afirmou ontem que ingressará com uma ação de indenização contra o governo do estado por causa do sumiço do cliente. "Ele (Amarildo) entrou vivo na unidade de polícia pacificadora (UPP) e depois desapareceu. O Estado tem de dar conta disso, pois ele deveria ter sido entregue em sua casa do mesmo jeito que foi retirado de lá", disse. Tancredo não citou qual valor pretende pedir como indenização.
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